Com o intuito de discutir a luta política, democrática e de credibilidade da informação, o Grupo Wiki Educação Brasil realiza, nos dias 13 e 14 de outubro, no Rio de Janeiro, o I Congresso Científico Brasileiro da Wikipédia (CCBWIKI). O evento tem como objetivo debater a popularização da ciência em plataformas colaborativas digitais.
Entre os convidados do CCBWIKI está Dario Taraborelli, diretor de pesquisas da Wikimedia Foundation, organização que opera a Wikipedia e seus projetos irmãos. Taraborelli é pesquisador da área de computação social e defensor do conhecimento aberto. O pesquisador é co-autor do Manifesto Altmetrics, e também trabalha em projetos de sistemas abertos para promover, acompanhar e medir o impacto, reutilizando os objetos de pesquisa.
Taraborelli já trabalhou em grandes centros de ensino como a University College London, Paris Diderot University e École Normale Supérieure. Além disso, recebeu o prêmio de ouro em Interactive Visualization do Information is Beautiful Awards. Várias mídias deram destaque para a sua atuação, incluindo The Guardian, Wall Street Journal, Chronicle of Higher Education e Times Higher Education.
O Núcleo de Comunicação Social do IBICT conversou com o pesquisador sobre o atual cenário e o futuro do acesso aberto no mundo.
Comunicação Social - Como surgiu o convite para participar do CCBWIKI? Qual é a sua expectativa em relação a sua participação em evento organizado pelo governo brasileiro?
Dario Taraborelli - Embora eu não esteja totalmente familiarizado com as políticas de livre acesso e os mandatos governamentais no Brasil, assisti, algumas semanas atrás, uma apresentação feita pelo coordenador da SciELO, Abel Packer, e achei esclarecedor. Abel sugeriu que o acesso aberto é presente no Brasil, no sentido de que os estudiosos, de um modo geral no país, aceitam a ideia de que a investigação financiada pelo contribuinte deve estar disponível para o público. O modelo cooperativo de SciELO também mostra que é possível criar parcerias regionais que lideram este modelo através das fronteiras nacionais. Obviamente, a situação é diferente quando os estudiosos brasileiros enviam seus trabalhos para revistas internacionais, muitas vezes publicados por editoras tradicionais.
Uma parte importante da minha apresentação no Congresso da Wikipedia é sobre as políticas que colocamos na Fundação Wikimedia para governar nossas colaborações de pesquisa com a indústria e com os parceiros acadêmicos. Vou falar em particular sobre o princípio da liberação de todas as saídas produzidas através do ciclo de vida de um projeto de pesquisa (resultados publicados, código, dados, documentação) a céu aberto e sob licenças abertas, um princípio que é consagrado na nossa política de acesso aberto.
Minha expectativa – em participar de uma conferência no Brasil, é encontrar pesquisadores animados em abraçar esta visão, contribuindo para um crescente corpo de conhecimento científico aberto, reutilizável e reprodutível pelo Wikipedia e seus projetos irmãos. A nossa comunidade de colaboradores voluntários deve ser o beneficiário final de todo esse trabalho. Minha recomendação para quem faz a pesquisa com aplicação no mundo real é pensar seriamente de onde vem o impacto e como a pesquisa deve ser publicada.
Comunicação Social - A União Europeia decidiu disponibilizar de forma livre e gratuita, a partir de 2020, todos os papers produzidos em seus estados-membros. Você acha que essa será uma tendência mundial para os próximos anos?
Dario Taraborelli - Não há como voltar para um lugar onde o acesso à pesquisa é mais restrito do que é hoje: esta é uma tendência irreversível. Eu acho que essa tendência irá firmar-se ainda mais sob a pressão crescente das investigações financiadas pelo contribuinte para tornar-se reproduzível. Ao longo do último ano, o tema da reprodutibilidade tornou-se central para ambos os organismos de financiamento e editores de revistas revisados por pares e eu acho que o acesso aberto é uma grande parte da solução. Isto é particularmente verdadeiro para a pesquisa científica licenciada abertamente, que permite o cenário: a abertura de publicações licenciadas permitirá que os investigadores executem uma validação adicional dos métodos, protocolos e resultados em grande escala através da combinação de avaliações tradicionais com análises de informações extraídas-máquina.
Comunicação Social - Você é co-autor do Manifesto Altmetrics e defensor de longa data do acesso aberto. Como enxerga a posição dos EUA em relação ao conhecimento aberto?
Dario Taraborelli - Os atores nos EUA (órgãos governamentais, editoras, financiadores, instituições de pesquisa) têm diferentes atitudes e políticas para o conhecimento aberto e para o livre acesso, por isso é difícil dar uma resposta única para esta pergunta. O fato de que os organismos de investigação federais como a NASA têm adotado, historicamente, modelos de acesso aberto e lançado resultados da investigação para domínio público, obviamente, estabelece um precedente importante que outros países podem seguir. A questão crítica, no entanto, é sobre o deslocamento de percepções e atitudes entre os envolvidos na produção do conhecimento acadêmico, e isso, com esforços institucionais, levará um tempo para ser concertado. Para um país como os EUA, que contribui com uma enorme parcela de conhecimento revisado, haverá muito trabalho a fazer.
Comunicação Social - Como o movimento de acesso aberto interfere no futuro das universidades e dos centros de pesquisa?
Dario Taraborelli - Eu não acho que o movimento de acesso aberto interfere de alguma forma no futuro das universidades e centros de pesquisa. Acredito que este movimento ajudará no alinhamento das políticas departamentais com uma visão compartilhada. Antes essa visão era feita por mandatos institucionais e governamentais, agora será aplicada de forma mais ampla.
Comunicação Social - A sua pesquisa abrange os aspectos comportamentais e sociais da colaboração online e da produção compartilhada. O que você pode dizer sobre o futuro desses temas?
Dario Taraborelli - Algo que me deixa particularmente animado é a convergência entre colaboração aberta on-line e a produção e disseminação do conhecimento acadêmico. Temos muitos bons exemplos de investigação produzida e curada em colaboração com os cidadãos leigos nessa área: Wikipedia e plataformas como o Zooniverse são exemplos proeminentes que vêm à mente. Acredito que vamos ver mais disso nos próximos anos, com um número crescente de papéis. A comunicação científica terá que aprender a fazer uma curadoria aberta em larga escala, a fim de funcionar eficazmente.
Victor Almeida
Núcleo de Comunicação Social do IBICT
Créditos da imagem: Myleen Hollero CC BY SA
Data da Notícia: 13/10/2016 14:50
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