Importante instituição cultural, acadêmica e científica brasileira, o Museu Nacional/UFRJ celebrou 202 anos no dia 6 de junho. A data foi comemorada em um momento de olhar para o futuro – são muitos os esforços da instituição para a recuperação do museu após a recente tragédia de um incêndio.
Em setembro de 2018, o museu foi atingido por um incêndio de grandes proporções que consumiu 90% do acervo em exposição no que já é considerado a maior tragédia museológica do Brasil. Desde o incêndio, a instituição trabalha para reconstruir sua sede e recuperar seus acervos. A reconstrução total do Museu Nacional só deverá terminar em 2025.
Localizado no Rio de Janeiro (RJ), o Museu Nacional é o berço da ciência no Brasil – é a instituição científica mais antiga do país e uma das mais importantes do mundo. Especializado em História Natural e Antropologia, o museu guardava mais de 20 milhões de itens, considerados patrimônios nacionais. Além do acervo, o museu faz parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com forte ligação com o fazer científico da universidade.
Sua sede fica no Palácio de São Cristóvão, a antiga casa dos Imperadores do Brasil. O Museu Nacional foi fundado pelo rei Dom João VI em 1818, com a finalidade de conhecer e estudar as riquezas do reino. Seu primeiro acervo surgiu a partir de doações da Família Imperial e de colecionares particulares. Ao longo de 200 anos, o museu conquistou o maior acervo da história natural da América Latina, com 20 milhões de itens relacionados aos estudos de paleontologia, antropologia, geologia, zoologia, arqueologia e etnologia biológica.
Museu e memória
O museu é um espaço de referência de memória. É o local onde se guardam objetos que são importantes para a história de um país, de uma época ou de um povo. Ele também cumpre um papel social e educativo de transmitir cultura para a sociedade. O museu perpetua um conhecimento adquirido através da pesquisa, preservação e a divulgação de bens materiais e imateriais. Além de valor histórico, os objetos são fontes permanentes de pesquisas científicas.
Os vestígios materiais do passado como objetos pessoais, fósseis, obras artísticas entre outras coisas muitas vezes são os únicos elementos ou documentos que sobram de quem viveu há séculos ou milênios. Quando se destrói um objeto, dificilmente ele pode ser recuperado. Por isso, o desaparecimento desses elementos originais também significa o fim de parte da história comum da humanidade. A digitalização de museus é um dos caminhos para preservar a memória simbólica e as informações de um objeto. A digitalização não substitui uma peça histórica, mas serve como objeto de referência.
Quais tesouros da humanidade o Museu Nacional guardava?
O Museu Nacional é a instituição matriz da ciência no Brasil e representava os avanços científicos, o conhecimento e a riqueza cultura do país e do mundo. A instituição tinha uma das mais completas coleções de fósseis de dinossauros do mundo, múmias andinas e egípcias, uma coleção greco-romana e coleções de artefatos importantes da arqueologia brasileira.
A biblioteca Francisco Keller, considerada uma das mais importantes bibliotecas de ciências sociais do Brasil e da América Latina, também foi afetada. Ela tem um acervo de 537 mil livros, 1.500 deles considerados raros. O incêndio destruiu parte de seu acervo, mas muitos conseguiram ser preservados e a biblioteca, que está interditada, vai entrar em reforma.
O edifício também foi palco de importantes acontecimentos históricos. O museu ocupa um prédio histórico na Quinta da Boa Vista. O palácio se tornou a residência oficial da família real no Brasil entre 1816 e 1821.
A monarquia brasileira era representada no museu pela Sala do Trono, que se tornou uns dois maiores símbolos do Segundo Reinado. O museu mantinha um dos tronos de Dom Pedro II, móveis originais da época e centenas de objetos doados pela Família Real.
A seção de Paleontologia exibia os fósseis e a réplica do Maxakalisaurs topai, o maior dinossauro já montado no país. Tratava-se de um animal herbívoro com cerca de 13 metros de comprimento e 9 toneladas. Em outra sala ficava Luzia, nome dado ao fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, com cerca de 11 mil anos. Luzia também representava a “brasileira” mais antiga do nosso território. Felizmente, fragmentos do crânio de Luzia e diversos outros fósseis foram recuperados depois do incêndio.
A seção de Antropologia abrigava 40 mil objetos, que representavam mais de 300 povos indígenas. Vários objetos também ajudavam a contar a história dos povos africanos. Com cerca de 700 itens, a coleção de etnologia africana e afro-brasileira era uma das maiores do mundo. Dentre as peças preciosas destruídas estão máscaras ritualísticas, instrumentos musicais, armas e o trono do rei africano Adandozan (1718-1818), do antigo reino do Daomé.
Já a coleção egípcia do Museu Nacional era considerada a maior da América Latina. O local é uma referência no Brasil na área de Egiptologia, que estuda o Egito Antigo. O tema era uma das paixões do imperador Dom Pedro II, considerado o nosso primeiro “egiptólogo”. O imperador herdou do pai a coleção egípcia do Museu atual e adquiriu peças durante viagens realizadas no século 19. Em 1876, Dom Pedro II viajou para o Egito onde recebeu o caixão da Dama Sha-Amun-em-su como presente.
Parte do acervo de Botânica também se perdeu. Em 1831, o botânico alemão Ludwig Riedel criou o Herbário do Museu Nacional, o primeiro do país. Ela guardava exemplares da flora brasileira, coletados em expedições científicas de naturalistas daquele século. O herbário do museu tinha 550 mil espécimes de todos os biomas brasileiros, que refletiam a riqueza da fauna e flora brasileira.
Carolina Cunha
Núcleo de Comunicação Social do Ibict
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