Com o objetivo de reforçar a importância da água na vida em sociedade, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, em 1992, o dia 22 de março como o Dia Mundial da Água.
Em contribuição a este debate, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), relembra a entrevista com a pesquisadora Luane Souza de Araújo, que atua na Coordenação de Tecnologias Aplicadas a Novos Produtos (COTEA) da instituição e que dedicou sua trajetória acadêmica à pesquisa em gestão de recursos hídricos.
A fim de avaliar os impactos exercidos pelo uso e a ocupação da terra na qualidade da água do lençol freático em área agrícola no Distrito Federal, Luane analisou, em sua pesquisa no mestrado (Universidade de Brasília, UnB, 2016), a qualidade da água de 38 poços piezométricos distribuídos pela Bacia Experimental do Alto Rio Jardim (BEARJ).
Para Luane - que atua nas áreas de hidrologia, gestão de recursos hídricos, conservação da água e do solo, qualidade da água e gestão de resíduos sólidos - a temática de recursos hídricos é extremamente relevante, pois é um bem vital para a existência de todas as formas de vida.
A pesquisadora é bacharela em Gestão Ambiental e mestra em Geografia (Gestão Ambiental e Territorial) pela UnB, técnica em Meio Ambiente pelo Instituto Federal de Brasília (IFB) e pós-graduada em Geografia e Análise Ambiental pela Universidade Estadual do Goiás (UEG).
Clique aqui para conhecer sua dissertação completa e confira abaixo uma breve entrevista com Luane.
Por que você escolheu este tema para sua pesquisa?
A formação em gestão ambiental é bastante multidisciplinar, abrangendo diversas áreas em que poderia atuar. Entretanto, meu primeiro estágio na época da faculdade foi na Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADASA) e lá foi meu primeiro contato com a gestão de recursos hídricos. Meu segundo estágio foi na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), onde trabalhei na área de hidrologia e, assim, obtive mais conhecimento nesta área. Dessa forma, optei por seguir meus estudos na área de gestão de recursos hídricos, sendo temática do meu TCC, dissertação de mestrado e da minha pós-graduação.
Em sua opinião, o que mudou em relação à pesquisa científica desde que apresentou sua dissertação (2016) até hoje em dia?
A pesquisa científica é e sempre foi importante em todas as áreas de conhecimento. Entretanto, talvez o que tenha mudado seja a percepção das pessoas e de determinadas instituições, principalmente neste cenário de pandemia, pois evidenciou-se tal importância.
Qual a participação da população nas decisões a respeito dos recursos hídricos?
No TCC da minha pós-graduação, analisei a “Percepção dos Cidadãos do Distrito Federal sobre Governança Hídrica e sua Participação Social”, e escolhi o tema justamente por querer entender mais sobre governança e participação da sociedade.
A política federal e distrital de recursos hídricos introduziu novos paradigmas de gestão descentralizada e participativa, com intuito de agregar a sociedade no processo de tomada de decisão, no qual espaços consultivos e deliberativos (instâncias de gestão da água) foram criados com esta finalidade.
Entretanto, com minha pesquisa pude perceber que os entrevistados (200 cidadãos do DF), em geral, não possuem governança hídrica nem participação social no que se refere à gestão das águas, devido à falta de divulgação de informações e a entraves pessoais.
De que forma a questão dos recursos hídricos é afetada com a situação de pandemia em que vivemos?
Aqui podemos destacar dois vieses. O primeiro está ligado ao acesso à água potável e à coleta de esgoto, dois dos pilares do saneamento básico. A falta desses torna inviável a prática de medidas básicas de higiene, deixando milhões de pessoas mais vulneráveis e suscetíveis à diversas doenças. Um exemplo atual é a infecção pela COVID-19.
E o segundo tem relação com a interconexão do meio ambiente, pois o surgimento de vírus zoonóticos é uma das consequências das mudanças sociais e ambientais. Isto se deve ao fato de ambientes naturais alterados serem mais vulneráveis, favorecendo aos patógenos deslocamento e alcance a outros seres, que não estão preparados para combatê-lo, resultando em surtos, epidemias, endemias e pandemias.
Lucas Guedes
Núcleo de Comunicação Social do Ibict
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