Na ocasião, Emir Suaiden acrescentou que “somente um leitor forma outro, sendo importante multiplicar o acesso ao livro e criar o leitor crítico”. Para tanto, segundo Suaiden, é preciso lembrar que a dimensão humana da informação passa pela alfabetização em informação e pela alfabetização digital, instrumentos e meios capazes de incluir ou de excluir (na falta delas) as populações mais carentes. Também relatou a dificuldade encontrada na comunicação entre bibliotecários e o programador de sistemas, além da concorrência entre o virtual e o bibliográfico; a falta de um público leitor; a indústria de conteúdos e a dependência cultural.
“O Brasil não tem público leitor e não produz conteúdos adequados, quando falamos em acesso à informação e ao livro. Faltam bibliotecas e uma política que leve à formação do leitor. Temos sites educacionais, mais de 100, porém o que nos falta são usuários críticos do sistema bibliotecário e a necessidade de encontrar respostas adequadas por meio das novas tecnologias e transformá-las em soluções práticas que possibilitem o avanço do conhecimento”, ressaltou.
Emir Suaiden acredita que a educação, na sua dimensão humana, a economia, na sua dimensão tecnológica, e a cultura, na sua dimensão social, são os alicerces básicos para a formação da sociedade da informação. Contudo, de acordo com o diretor, para uma sociedade globalizada e competitiva há a necessidade de uma biblioteca híbrida, com acervo bibliográfico virtual, digital, além de uma biblioteca pública em rede e com a transferência da informação e do conhecimento para os leitores.
“Defendo cada vez mais que há uma cultura da informação. Aqui na América Latina ela nasceu a partir do processo de colonização. E, lembrando, que já na época do descobrimento do Brasil havia universidades na Europa. Ou seja, o atraso é um grande atraso na área da informação. E quando estudamos a colonização brasileira, verificamos que as primeiras pessoas interessadas em educação e em livros foram os jesuítas, apesar de que as instituições eram para servir à elite e ao poder”, contou Suaiden.
Emir Suaiden explicou que só em 1912 que a Biblioteca Nacional fez o primeiro curso voltado para a capacitação dos profissionais da informação e de bibliotecários, com conteúdos relacionados à preservação, catalogação e classificação. “O livro e a informação eram para ser preservados e não difundidos, outro aspecto importante da cultura informacional brasileira. Sempre a vocação de preservar e não difundir. Então, nas primeiras décadas do século passado, o livro tinha uma função interessante, ele estava sempre na sala das pessoas e era um objeto que simbolizava que a família era ilustre, era um monumento da cultura imposta. Foi aí que começaram a surgir as primeiras manifestações de implantação de bibliotecas”, disse o diretor, recapitulando um pouco da história nacional.
“Na década de 50/60, quando se constrói Brasília e Juscelino está cercado pelos intelectuais da época é feito o plano urbanístico da cidade. Porém, somente 40 e poucos anos depois é que surge a biblioteca. Ou seja, a biblioteca não é visível. Pensou-se no teatro, no museu, mas a biblioteca não teve visibilidade, tanto que no plano de Brasília ela não existia. Agora está sendo construída, mas mesmo assim as pessoas, hoje, ainda têm dúvidas com relação ao nome, ao prédio, ao público e ao não-público, para quem ela é destinada, se é voltada para a Esplanada, para a rodoviária, enfim uma série de indagações. E a biblioteca não chega a ser visível, mesmo com o prédio, ele diz pouco. Quem vai atender a instituição?”, questionou Suaiden, lembrando que a falta de bibliotecas é a falta de memória de um país.
De acordo com Suaiden, na sociedade moderna da informação e do conhecimento, é importante proporcionar uma reunião dos pares, debater temas fundamentais para o serviço de informação. Ele explica que, com o avanço do conhecimento e a revolução tecnológica foi criada a sociedade da informação, saindo de uma sociedade industrial e pobre. Alguns especialistas, entretanto, hoje alegam que o mundo já está saindo da sociedade da informação para entrar na sociedade do conhecimento.
“Quando você fala sociedade da informação, você pressupõe que está toda humanidade, não é. No Brasil, atualmente, apenas 20% da população estão incluídos nesta sociedade da informação. Uma sociedade que prega a democratização do acesso à informação, porém que exige um comportamento e uma infra-estrutura. E o Brasil é um país que tem analfabetos e desnutridos, pessoas que jamais terão condições de participar desta sociedade, na qual a exclusão e a inclusão passam a ser parâmetros”, salientou.
O evento prossegue até o dia 23/06, com encerramento previsto para as 18 horas. Uma das atividades previstas é a apresentação do regimento (minuta) da Rede de Bibliotecas da Justiça Eleitoral.
Assessoria de Comunicação Social
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict)
Data da Notícia: 23/06/2006 10:16
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