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No último dia 24, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), realizou a live QuartaàsQuatro com o tema “Parâmetros da biblioteconomia no Brasil”. Com mediação de Cecília Leite, diretora do Ibict, o evento contou com as palestras dos professores Emir Suaiden e Murilo Cunha, ambos da Universidade de Brasília (UnB).

Voltado para bibliotecários, o evento integra as comemorações do Mês do Bibliotecário no Brasil 2021, com uma programação que promove o compartilhamento de experiências e a realização de discussões que contribuam para o exercício profissional crítico, engajado e atento às demandas apresentadas pela sociedade.

Durante a live foram discutidos aspectos sobre as bibliotecas e o profissional bibliotecário no Brasil. Emir Suaiden abordou fatos históricos que mais impactaram a biblioteconomia brasileira, do período colonial ao século 20, e que exigiram profundas mudanças na formação e na atuação dos bibliotecários. “Hoje, quando falamos biblioteca para todos, a gente vê que a biblioteca nasceu muito elitizada”, explica.

Murilo Cunha apresentou os benefícios e características das bibliotecas digitais, além de tendências e novas possibilidades de acervos, com diferentes tipos de documentos e dados. A apresentação contou com exemplos práticos de bibliotecas ao redor do mundo que inovam na forma de atuação. Segundo Cunha, essas possibilidades permitem que as bibliotecas exerçam novos papeis informacionais em áreas como educação, ciência, cultura e governo.

Ao final da live, o professor abordou o Bicentenário da Independência do Brasil, comemorado em 2022, como uma oportunidade para as bibliotecas brasileiras implementarem ações educativas inovadoras.  

Clique aqui para acessar a live em versão integral no canal do Ibict no Youtube.

 

Carolina Cunha

Núcleo de Comunicação Social do Ibict 

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No próximo dia 24, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), realiza a live QuartaàsQuatro com o tema “Parâmetros da biblioteconomia no Brasil”. O evento  terá a mediação de Cecília Leite, diretora do Ibict, e conta com palestras dos professores Emir Suaiden e Murilo Cunha, ambos da Universidade de Brasília (UnB).

O evento, que integra as comemorações do mês do bibliotecário no Brasil e da programação das atividades do Biblioteconomia para todas as Pessoas, contará com transmissão on-line ao vivo pelo canal do Ibict no Youtube, no dia 24 de março, quarta-feira, às 16h (horário de Brasília).

Durante a live serão discutidos aspectos sobre as bibliotecas e o profissional bibliotecário, em relação ao passado e ao futuro. “Pretendo fazer um estudo retrospectivo dos fatos históricos que mais impactaram a biblioteconomia no Brasil e exigiram profundas mudanças na formação e na atuação dos bibliotecários” diz Emir Suaiden.

Já Murilo Cunha, apresenta como as bibliotecas digitais podem exercer novos papeis informacionais em áreas como educação, ciência, cultura e governo. “A minha fala trata de sugestões para a construção de bibliotecas digitais no futuro. Apresento algumas ideias que poderão ser utilizadas para a construção das mais variadas bibliotecas digitais”. O professor também vai abordar o Bicentenário da Independência do Brasil, comemorado em 2022, como uma oportunidade para as bibliotecas implementarem ações inovadoras.  

A live será exibida ao vivo no canal do Ibict no Youtube (clique aqui para acessar).

 

Confira o currículo dos participantes:

Cecília Leite

Possui graduação em Letras Licenciatura Plena pela Universidade de Brasília (1977), mestrado em Ciências da Informação pela Universidade de Brasília (1996) e doutorado em Ciências da Informação pela Universidade de Brasília (2003). É Pesquisadora da EMBRAPA Informação Tecnológica de carreira, cedida ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTIC), atuando como Diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Ibict.

Emir Suaiden

É graduado em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília, mestrado em Ciência da Informação pela Universidade Federal da Paraíba, doutorado em Ciência da Informação pela Universidad Complutense de Madri e pós-doutorado pela Universidad Carlos III de Madri. Professor titular da Universidade de Brasília (Unb). Tem bolsa de produtividade em pesquisa 1-B do CNPq. Dirigiu o Instituto Nacional do Livro, a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e a Biblioteca Central da Universidade de Brasília. Foi presidente do Comitê Executivo do Centro para Estudos do fomento à Leitura na América Latina e Caribe - CERLALC/Unesco.

Murilo Cunha

Graduado em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília, mestrado em Administração de Bibliotecas pela Universidade Federal de Minas Gerais, Doutor em Library Science pela University of Michigan (EUA), e estágio de pós-doutorado na University of Michigan. Professor titular aposentado da UnB, professor permanente do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UnB, líder do Grupo de Pesquisa sobre Biblioteca digital (UnB-FCI). Foi presidente da Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal e do Conselho Federal de Biblioteconomia. Na UnB, ocupou os cargos de diretor da Faculdade de Estudos Sociais Aplicados, chefe do Departamento de Ciência da Informação e Documentação e Diretor da Biblioteca Central. É editor da Revista Ibero-americana de Ciência da Informação (RICI).

 

 

Carolina Cunha

Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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Em comemoração ao dia dos bibliotecários, celebrado no dia 12 de março, a diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Cecilia Leite, participou do seminário Biblioteconomia para Todas as Pessoas, que foi realizado no último dia 11, com transmissão pelo canal da Câmara dos Deputados no YouTube. O evento discutiu especialmente o impacto da pandemia de COVID-19 no acesso a bibliotecas e centros de documentação fisicamente indisponíveis, além de temas fundamentais para o futuro da profissão e da área.

Estiveram presentes na abertura do evento os deputados federais Enrico Misasi, Erika Kokay, Fernanda Melchionna e Lafayette de Andrada; o senador Izalci Lucas; o diretor-executivo de gestão do Senado Federal, Marcio Tancredi; a coordenadora-geral da Secretaria de Gestão de Informação e Documentação em Exercício do Senado Federal, Samanta Nascimento; e o diretor do Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados, André Freire da Silva.

Durante a mesa técnica do evento, Cecilia Leite contou sobre o trabalho do Ibict, criado em 27 de fevereiro de 1954 como Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). “Em 1976, o IBBD transformou-se então em Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia e, desde então, o Ibict tem crescido e acompanhado os diversos avanços tecnológicos que possibilitam novos suportes ao livro e novas possibilidades para a leitura, bem como os novos desafios para as bibliotecas e os bibliotecários”, contou Cecilia Leite.

Cecilia Leite explicou sobre as transformações que a profissão vem vivenciando com a nova era e ressaltou a dimensão social das bibliotecas. "As bibliotecas são centros de informação e cidadania. Além disso, são espaços para os seus cidadãos de absoluta necessidade para o seu crescimento". A diretora do Ibict citou o caso da Biblioteca Pública de Nova Iorque (New York Public Library), que recebe visitantes de todo o mundo. Como explicou Cecilia Leite, nessa biblioteca os imigrantes e a comunidade contam com importantes oportunidades, como o aprendizado da língua inglesa, a participação em cursos e o acesso a documentos.

Além do Ibict, participaram da mesa técnica representantes das seguintes instituições: Câmara dos Deputados, Senado Federal, Associação de Bibliotecários e Profissionais da Ciência da Informação do DF (ABDF), Conselho Federal de Biblioteconomia, Conselho Regional de Biblioteconomia – 1ª Região (CRB1), Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), Secretaria Nacional da Economia Criativa e Diversidade Cultural (Secretaria Especial de Cultura, do Ministério do Turismo) e Universidade de Brasília (UnB).

Também foram convidadas para a mesa técnica a professora Maria Aparecida Moura, da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e a atriz, escritora e dramaturga Cristiane Sobral, que discutiram sobre Biblioteconomia negra e a importância da população negra na trajetória da Biblioteconomia, bem como a importância de repensar a formação universitária na área. O seminário contou ainda com uma palestra da coordenadora da área de Recursos Digitais da Biblioteca do Congresso do Chile e presidente do Comitê Permanente da Seção para a América Latina e Caribe da Federação Internacional de Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas, Maria Angélica Fuentes Martínez, que ressaltou a relevância das celebrações em 2021 do Ano Ibero-Americano das Bibliotecas.

O evento está disponível integralmente na página da Câmara dos Deputados. Clique aqui para assistir.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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No dia 11/02, às 17h30, será realizada uma live de lançamento do livro “Periódicos científicos de Acesso aberto de Instituições Públicas Brasileiras”, no Plurissaberes, canal de Youtube da Biblioteca de Ciências Humanas da Universidade Federal do Ceará (Ufc).

A live tem como convidado Gildenir Carolino Santos, organizador da publicação. Santos é doutor em Educação e bibliotecário responsável pelo Portal de Periódicos Eletrônicos Científicos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O prefácio da publicação é assinado por Miguel Márdero Arellano, coordenador da Rede Cariniana do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). “As instituições citadas no livro são todas usuárias do serviço de preservação digital da rede Cariniana”, diz o coordenador.

A publicação traz artigos dos seguintes autores: Alexandre Nunes da Silva (Ufal), Angélica Conceição Dias Miranda (Furg), Camila Barros (Ufsc), Edgar Bisset Alvarez (Ufsc), Edivânio Duarte de Souza (Ufal), Enrique Muriel-Torrado (Ufsc), Francisco Edvander Pires Santos (Ufc), Helen Casarin (Unesp), José Augusto Guimarães (Unesp), Juliana Soares Lima (Ufc), Gildenir Carolino Santos (Unicamp), Maria Giovanna Guedes Farias (Ufc), Maria Isabel J.S. Barreira (Ufba), Martha Suzana Cabral Nunes (Ufs), Murilo Bastos da Cunha (Unb), Ronaldo Ferreira Araújo (Ufal), Samile Andréa de Souza Vanz (Ufrgs), Sérgio Franklin Ribeiro da Silva (Ufba), Susana Barros (Ufba), Sônia Caregnato (Ufrgs) e Telma de Carvalho (Ufs).

O e-book compartilha os saberes de periódicos conhecidos na comunidade científica, com outros periódicos que desejam melhorar e aprimorar as suas boas práticas. Neste contexto, a publicação serve como um guia para outros editores e para a comunidade usuária interessada no tema de periódicos científicos de acesso aberto.

Para assistir à live acesse:

https://www.youtube.com/plurissaberesbchufc

 

Carolina Cunha 

Núcleo de Comunicação Social do Ibict 

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A Biblioteca Nacional do Qatar foi selecionada para sediar a 17ª Interlending and Document Supply Conference (ILDS, 17ª Conferência de Empréstimo entre Bibliotecas e Fornecimento de Documentos) da International Federation of Library Associations and Institutions (Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias - IFLA), de 4 a 7 de outubro de 2021.

O Comitê Permanente DDRS da IFLA (Document Delivery and Resource Sharing Standing Committee) trabalhará em estreita colaboração com o anfitrião local para organizar a conferência. O Comitê Permanente DDRS conta com uma representante brasileira: Tainá Batista Assis, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

A 17ª conferência ILDS reunirá delegados internacionais de todo o mundo na Biblioteca Nacional do Qatar para discutir práticas, estratégias e experiências inovadoras no campo do empréstimo entre bibliotecas e fornecimento de documentos. O serviço de empréstimo entre bibliotecas e fornecimento de documentos permite que usuários tenham acesso a coleções impressas e digitais em diversos idiomas e formatos de todo o mundo. Os tópicos a serem discutidos durante a conferência incluem, por exemplo, o compartilhamento de recursos, os direitos autorais, a ciência aberta, os efeitos da pandemia nos serviços de empréstimo, a importância da digitalização no compartilhamento de coleções e maneiras de aprimorar a cooperação entre instituições.

“O empréstimo entre bibliotecas e o fornecimento de documentos são pilares das operações de qualquer biblioteca, e a cooperação contínua entre instituições é fundamental para nossa capacidade de servir nossos usuários. Ao sediar a 17ª Interlending and Document Supply Conference, a Biblioteca Nacional do Qatar está reafirmando nosso apoio a esse importante campo e esperamos receber delegados de todo o mundo para participar dessas importantes discussões”, disse Hamad Bin Abdulaziz Al-Kawari, ministro de estado e presidente da Biblioteca Nacional do Qatar.

Peter Collins, diretor de Compartilhamento de Recursos da Online Computer Library Center (OCLC) e presidente do Comitê Permanente DDRS da IFLA, acrescentou que “o Comitê Permanente DDRS da IFLA está entusiasmado com a parceria com a Biblioteca Nacional do Qatar para a realização da 17ª Interlending and Document Supply Conference. A ILDS é a principal conferência global sobre compartilhamento de recursos. Na era digital, a informação e a pesquisa não conhecem fronteiras, e o compartilhamento de recursos fornece a base para as bibliotecas apoiarem a educação, a pesquisa e o avanço científico. Acreditamos que a Biblioteca Nacional do Qatar será o local perfeito para as apresentações, artigos e inovações de ponta por líderes da área de todo o mundo”.

Conheça mais sobre as edições anteriores da conferência clicando aqui.

Fonte da notícia e da foto de capa: Qatar National Library, com tradução e adaptações de Patrícia Osandón, do Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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Depois de um estágio na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (atual Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais), a então estudante de Biblioteconomia e hoje professora Regina Marteleto soube que essa seria a área que nortearia seus caminhos profissionais e acadêmicos. Professora do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Regina Marteleto está entre as pessoas que colaboraram para o crescimento da Ciência da Informação no Brasil.

Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, mestre em Ciência da Informação e da Comunicação pela École des hautes études en sciences sociales (França), e graduada em Letras (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas) e Biblioteconomia (Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG), Regina Marteleto já ocupou o cargo de presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB), entre 2003 e 2006.

A longa carreira da professora foi dedicada a vários temas da Ciência da Informação, como cultura e informação; conhecimento, informação e sociedade; informação e comunicação em saúde; mediações infocomunicacionais em redes sociais; e teoria social, epistemologia e interdisciplinaridade nos estudos da informação.

Em entrevista, a professora Regina Marteleto conta um pouco sobre a trajetória dela com a Ciência da Informação e com o PPGCI/Ibict/UFRJ.

Confira!

Ibict: Qual a sua história acadêmica? Como se deu a estruturação dos temas de pesquisa da senhora?

Regina Marteleto: Quando saí de um colégio de freiras, em Belo Horizonte, meu desejo inicial era estudar jornalismo. Queria estar a par dos fatos e produzir informações sobre o que se passava no nosso país no período da ditadura militar. Eram os anos de 1960, os mais sombrios desse regime que tanto mal fez ao país. Interessava-me também a Biblioteconomia, depois da visita ao Colégio de uma estudante na UFMG. E também me encantava a ideia de ter um emprego e, portanto, autonomia.

Tive sucesso nas provas do vestibular. Então frequentei os dois cursos paralelamente durante um semestre, até que optei pela Biblioteconomia por conta da oferta de um estágio remunerado na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, patrocinado pelo Instituto Nacional do Livro. Depois de terminar o curso de Biblioteconomia na UFMG, senti a necessidade e a curiosidade de ampliar mais a minha base de conhecimentos, principalmente em línguas e na linguagem. Gostava de escrever e descobrir novos lugares, além daquele Belo Horizonte que me cercava. Decidi cursar Letras Português/Francês na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e nasceu aí minha trajetória acadêmica e o interesse em estudar o objeto informação por uma abordagem socioantropológica, crítica e interpretativa.

Fui estagiária na biblioteca pública durante o período de duração do curso. Depois, enquanto cursava Letras na PUC e estudava francês, atuava como bibliotecária na Biblioteca Central do Sesc, uma espécie de biblioteca pública situada no centro de Belo Horizonte, de portas abertas para a comunidade do comércio e em geral. Nessas experiências como estudante e profissional, tive mestres e colegas que marcaram a minha trajetória, com os quais aprendi muito do que guardo até hoje, na vida acadêmica e na vida pessoal.

Mais tarde, ingressei como profissional bibliotecária na UFMG, atuando na Divisão de Estudos e Projetos da Coordenação de Bibliotecas Universitárias. Nesse período, obtive uma bolsa do governo francês para realizar estágios em bibliotecas universitárias, o que me levou ainda a prolongar o período da bolsa para realizar um Diplôme d´Études Approfondies (DEA) em Sciences de l´Information et de la Communication na Ecole de Hautes Études en Sciences Sociales, curso criado por vários intelectuais e pesquisadores, dentre eles, Robert Escarpit, Roland Barthes e Jean Meyriat.

Ibict: Como foi que se deu sua entrada no PPGCI/Ibict/UFRJ?

Regina Marteleto: Em 1980, de volta da França e por força de situação familiar, precisei deixar a UFMG e me instalar no Rio de Janeiro. Quem mediou a minha entrada no PPGCI foi a Profa. Abigail Carvalho de Oliveira, vinda temporariamente da UFMG para o Ibict, onde assumiu por um tempo a divisão de ensino e pesquisa. Eram tempos de mudanças na instituição com a perspectiva de transferência do Ibict para Brasília. Eu era ainda bem jovem e iniciava um novo ciclo de vida e de trabalho, com múltiplos desafios pela frente. Atuei desde o início na pós-graduação, lecionando disciplinas no mestrado e coordenando a reestruturação do Curso de Documentação Científica (CDC), junto com colegas.

A partir do convênio realizado entre o Ibict e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, via Escola de Comunicação (ECO), abre-se um ciclo inspirador de novas ideias. Assim, em 1994, é criado o doutorado em Ciência da Informação do PPGCI/Ibict/UFRJ. Antes disso, eu e algumas colegas cursamos o doutorado em Comunicação e Cultura na ECO/UFRJ, em linha de pesquisa criada para ser o embrião do futuro doutorado em Ciência da Informação. Nesse período criei, juntamente com os alunos e alguns colegas, a revista Informare – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, destinada a divulgar a produção de docentes e discentes do Programa.

Desse período, eu não poderia deixar de mencionar a presença de um colega, Victor Valla, que esteve um ano no PPGCI. Com ele, percorria e conhecia os novos espaços de circulação de informações e produção de saberes em uma via libertadora, contestatória e democrática: as organizações não-governamentais de assessoria e apoio aos movimentos sociais, como a FASE, o CEDI, o IBASE, dentre outras. Depois de ter estudado no doutorado da ECO/UFRJ, o espaço escolar como espaço informacional reprodutor e, ao mesmo tempo, impulsionador de mudanças sociais, chegou o momento de compreender o papel dessas novas organizações na democratização da informação e na dialogia entre diferentes formas de saberes para a transformação social. É nessa fase que passei a interagir e compartilhar projetos de pesquisa e de ação social com colegas da área da saúde, da Fiocruz, à qual se vinculou o colega Victor Valla.

Ibict: Qual a importância do PPGCI/Ibict/UFRJ para a Ciência da Informação e para a ciência brasileira?

Regina Marteleto: O PPGCI é pioneiro no Brasil e na América Latina, no campo dos estudos informacionais, desde os anos de 1970, quando a pós-graduação começou a se consolidar no país, nas mais variadas áreas do conhecimento. A postura visionária e inovadora de suas precursoras Célia Zaher, Hagar Espanha e outros profissionais abriu diversas frentes para a criação e a consolidação da C.I., formando mestres e mestras que atuaram na criação de outros cursos de pós-graduação no país.

Desde então, sou testemunha desse papel central do Ibict no cenário latino-americano dos estudos da informação. Trata-se de uma instituição que, apesar de atravessar diversos e constantes percalços político-institucionais, manteve a firmeza de sua missão de coordenadora e incrementadora de práticas e políticas informacionais para a ciência e a tecnologia brasileiras. Daí a sua importância também para a ciência brasileira, por meio tanto da pesquisa e da formação pós-graduada, quanto no desenvolvimento de serviços e produtos informacionais.

Ibict: A senhora enfrentou algum preconceito ao longo da carreira acadêmica por ser uma mulher cientista?

Regina Marteleto: Apesar de já ter percorrido um longo caminho no meio acadêmico, posso afirmar que nunca enfrentei preconceito pela minha condição de mulher pesquisadora. Por outro lado, tenho consciência de que me situo em uma área ou domínio com predominância feminina, que não desfruta do mesmo prestígio científico de outras áreas, por exemplo, das ciências exatas, engenharias ou tecnologias.

É fato, em nosso país, que as áreas do conhecimento e de atuação profissional com predominância feminina – enfermagem, psicologia, serviço social, pedagogia – sofrem o estigma do cuidado, geralmente atribuído à mulher, o que as coloca em patamar diferenciado no que tange aos financiamentos e apoios para estímulo à pesquisa, em um país cuja estrutura patriarcal demarcou a relevância do direito, medicina e engenharia e a formação masculina. Entretanto, e graças às lutas e ao protagonismo das mulheres desde algumas décadas, essa realidade vem sendo alterada e as mulheres já se fazem mais presentes na escola e nas universidades, obtendo melhor desempenho do que os homens, embora persistam as diferenças de oportunidades no mercado de trabalho, favoráveis ao masculino.

Ibict: Quais os futuros possíveis para o PPGCI e para a Ciência da Informação?

Regina Marteleto: Para o bem, mais do que para o mal, na minha percepção, o mundo digital que veio se conformando desde as últimas décadas consolida-se de forma mais intensa no momento atual, haja vista, por exemplo, as novas formas de interação, trabalho, educação que se configuram neste momento da pandemia provocada pelo novo coronavírus, o Sars-CoV-2. Entretanto, o ritmo cada vez mais veloz e ampliado das comunicações, paralelo a uma abundância na produção e no acesso às informações, não tem favorecido a conformação de sociedades mais justas e democráticas. Questões de ordem econômica, geopolítica e de poder parecem orientar os fluxos, a conservação e o uso das informações. Diversas formas de mediações são necessárias a fim de promover a validação, a preservação e o acesso às informações e aos saberes.

Uma das formas mais relevantes neste cenário são as mediações culturais – o reconhecimento da pluralidade de povos, saberes e narrativas que coexistem nos planos mundial, nacional, regional. Em segundo lugar, e não menos importante, destacam-se as mediações documentárias que se inscrevem nas práticas e saberes dos profissionais da informação. Essas mediações são ética e politicamente relevantes no cenário informacional de ontem e de hoje. O PPGCI/Ibict/UFRJ, assim como outrora e desde sempre, tem e terá papel central nesse novo enquadramento informacional.

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Esta entrevista integra uma série dos meses de setembro e outubro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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Tendo como temática central a "Biblioteconomia Negra no Brasil”, a última QuartaàsQuatro, live realizada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), contou com a presença dos pesquisadores Franciéle Silva e Gustavo Saldanha. Os convidados discutiram a respeito de relações étnico-raciais, epistemologias não-hegemônicas, entre outras perspectivas antirracistas dentro dos cursos de Biblioteconomia no Brasil. A live ocorreu no dia 19 de agosto e está disponível integralmente no canal do Ibict no Youtube.

Franciéle Silva é pesquisadora das áreas da black librarianship americana e da biblioteconomia negra brasileira e, atualmente, é doutoranda em Ciência da Informação no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. Já Gustavo Saldanha é pesquisador titular do Ibict e professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Ibict.

A live iniciou com as contribuições do professor Gustavo Saldanha, que contou como foi a trajetória de pesquisa e trabalho durante o mestrado que Franciéle Silva realizou em Ciência da Informação, no PPGCI/Ibict/UFRJ, no qual ele foi orientador. Além da dissertação de Franciéle Silva, o trabalho colaborativo dos pesquisadores gerou a comunicação “Biblioteconomia Negra Brasileira: Caminhos, lutas e Transformação”, que conquistou o primeiro lugar do GT6 (Informação, Educação e Trabalho) durante a 20ª edição do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib), principal evento da área no Brasil, que aconteceu em 2019.

O trabalho de pesquisa realizado entre Franciéle Silva e Gustavo Saldanha colaborou para outros resultados positivos para a Ciência da Informação, como a alteração de currículos acadêmicos em algumas universidades, que passaram a estar mais preocupadas com perspectivas antirracistas dentro das suas disciplinas. Ambos os pesquisadores reforçaram a necessidade se repensar como a ciência foi construída e o papel exercido pelo pesquisador para as transformações sociais.

Ao longo da live, Franciéle Silva e Gustavo Saldanha também detalharam a história das biblioteconomias negras brasileira e estadunidense, indicaram referências bibliográficas para a realização de pesquisas na área, e contaram sobre o acesso à informação, ao livro e à leitura e a luta contra a segregação racial nos últimos 200 anos.

A live está disponível integralmente no canal do Ibict no Youtube. Veja abaixo o vídeo:

 

Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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A QuartaàsQuatro da próxima quarta-feira (19 de agosto) contará com a participação dos pesquisadores Franciéle Silva e Gustavo Saldanha, que vão debater sobre "Biblioteconomia Negra no Brasil”. Os convidados discutirão a respeito de relações étnico-raciais, epistemologias não-hegemônicas, entre outras perspectivas antirracistas dentro dos cursos de Biblioteconomia no Brasil. O evento será transmitido ao vivo pelo canal do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) no Youtube, às 19h.

Franciéle Silva e Gustavo Saldanha são autores da comunicação “Biblioteconomia negra brasileira: caminhos, lutas e transformação”, que conquistou o primeiro lugar do GT6 (Informação, Educação e Trabalho) durante a 20ª edição do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib), principal evento da área no Brasil, que aconteceu em 2019.

Ao longo da live, os convidados contarão sobre suas histórias com o tema. Franciéle Silva é pesquisadora das áreas da black librarianship americana e da biblioteconomia negra brasileira e foi orientanda do professor Gustavo Saldanha durante o mestrado em Ciência da Informação, realizado no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Ibict.

Atualmente, Franciéle Silva é doutoranda em Ciência da Informação no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. Já Gustavo Saldanha é pesquisador titular do Ibict e professor e coordenador do PPGCI/Ibict/UFRJ.

Para ativar o lembrete da live, clique aqui (redirecionamento para o Youtube).

Não perca!


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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A partir de inquietações sobre a ausência das questões étnico-raciais dentro dos cursos de Biblioteconomia no Brasil, Franciéle Carneiro Garcês da Silva lançou um questionamento: como promover a inserção da temática africana e afro-brasileira no ensino de Biblioteconomia? O questionamento vem acompanhando os estudos de Franciele desde a graduação, realizada na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

Após a graduação, Franciéle Silva prosseguiu os estudos e tornou-se mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). Atualmente, a pesquisadora é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os estudos de Franciéle Silva foram reconhecidos durante a 20ª edição do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib), principal evento da área no Brasil, que aconteceu em 2019. A comunicação “Biblioteconomia negra brasileira: caminhos, lutas e transformação”, orientada pelo professor Gustavo Saldanha (PPGCI/Ibict/UFRJ), conquistou o primeiro lugar do GT6 (Informação, Educação e Trabalho).

Em entrevista para o site do Ibict, a pesquisadora conta sobre a importância da presença das questões étnico-raciais nos cursos de Biblioteconomia e detalha sua história com a Ciência da Informação. Confira!

Ibict: Conte um pouco da sua trajetória e o que motivou seu estudo?

Franciéle Silva: Eu sou uma mulher negra. Venho do estado do Rio Grande do Sul, da zona rural, lá no extremo sul do país. Como mulher negra, eu sempre passei por muitas situações de racismo dentro das minhas relações não só familiares, mas também de trabalho e nos estudos. Em 2013, ingressei na graduação no curso de Biblioteconomia da Universidade do Estado de Santa Catarina, quando passei a participar do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), onde aprendi muitas coisas relacionada às questões étnico-raciais.

Foram quatro anos de formação nas questões étnico-raciais, mas percebi que no meu curso isso não era uma coisa que prevalecia. Nós não tínhamos abordagens das questões étnico-raciais nas disciplinas e foi isso que me levou a fazer o primeiro estudo da minha carreira, que foi meu trabalho de conclusão de curso. Nesse trabalho de conclusão, eu entrevistei docentes buscando entender qual era a importância da inserção das questões étnico-raciais para eles, além da história e da cultura afro-brasileira na formação bibliotecária, e se tinham conhecimento de instrumentos normativos sobre isso.

Tenho o entendimento de que o preconceito nasce de um pré-conceito criado a partir daquilo que a gente tem da história que as pessoas contam, da classificação que as pessoas fazem. A gente precisa formar pessoas para entender que todo mundo faz parte do grupo de seres humanos. Somos diferentes e diversos, então cada um tem uma característica, um fenótipo, um pertencimento étnico-racial.

A partir da graduação, eu consegui então ter uma análise local do que os professores consideravam importante e da intersecção entre questões étnico-raciais e o ensino. Quando fui analisar a estrutura do curso, ele não tinha disciplinas específicas sobre isso, mesmo os professores considerando isso muito importante. Eles desconheciam os instrumentos normativos e uma parte dos entrevistados justificou também que, por serem disciplinas mais tecnológicas, não era possível inserir as questões étnico-raciais.

Então, a partir daí, foi possível ter uma percepção maior de como a docência está construída e que, muitas vezes, ela pode sim perpetuar alguns preconceitos. Porque se não se aborda isso dentro da formação, como é que você vai conscientizar os estudantes sobre como olhar para aquela comunidade que vem desde a pós-abolição sofrendo com várias desigualdades?

Ibict: Depois da graduação, quais foram os próximos passos na sua pesquisa com a Biblioteconomia e as questões étnico-raciais?

Franciéle Silva: No mestrado, a partir desse recorte local, eu ampliei a pesquisa. No PPGCI/Ibict/UFRJ, eu tive a sorte de contar com a orientação do professor Gustavo Saldanha e foi partir daí que ele me mostrou algumas outras concepções teóricas, alguns outros movimentos. Conheci o movimento da Black Librarianship, dos Estados Unidos.

Como nos Estados Unidos as pessoas afro-americanas tiveram um período de segregação racial, no qual muitas pessoas não conseguiram acessar as bibliotecas, elas começaram a lutar para serem graduadas em Biblioteconomia, para estarem nesses espaços como bibliotecários* e para levarem informação às populações afro-americanas e transformarem a sociedade por meio do acesso à biblioteca, à leitura e ao livro.

Ibict: Qual a importância de discutir sobre a Biblioteconomia negra brasileira?

Franciéle Silva: Hoje, o meu intuito é que as pessoas negras sejam também reconhecidas como produtoras de conhecimento, como pessoas que estão refletindo, pesquisando e publicando dentro da área não só com viés étnico-racial, mas sobre todas as outras áreas que compõem a Biblioteconomia. Muitas vezes, se você pergunta para as pessoas se elas conhecem um intelectual bibliotecário negro, a maioria não conhece. Então, o intuito de fortalecer esse movimento da Biblioteconomia negra é mostrar quem produz conhecimento e projetos e quem faz ações dentro da biblioteca com viés étnico-racial, refletindo como tornar aquela biblioteca um lugar de representatividade dessa população.

É preciso mudar a biblioteca como sendo um lugar da elite e para elite, ou seja, somente quem faz parte da elite é que deveria estar nesse espaço. A biblioteca deve acolher a todas as pessoas e representá-las. Então, nesse sentido, a Biblioteconomia vem para demonstrar que existem ações, pesquisas e intelectuais dentro do Brasil que estão refletindo sobre questões étnico-raciais e que também há pessoas negras que estão fazendo pesquisas, mas não só pesquisas. A gente também está atuando em prol da questão das políticas de cotas – há pessoas que estão dentro de vários movimentos civis, em todos os espaços. Então, acredito que estudar a Biblioteconomia Negra e promover a sua visibilidade seria uma forma de reconhecer aquelas pessoas que muitas vezes estão “invisibilizadas” porque são bibliotecárias negras.

Ibict: Como pensar uma Biblioteconomia Negra partindo do princípio que a história das produções intelectuais (e da administração dessas produções) foi, em grande parte, construída por homens brancos?

Franciéle Silva: O intuito de reconhecer e de pensar a Biblioteconomia Negra é mostrar que essa intelectualidade existe e que, sim, há uma epistemicídio, que é a supressão, a invisibilidade desse conhecimento que é produzido por pessoas negras. Hoje, nós temos uma gama de livros que têm sido elaborados e produzidos por bibliotecários negros e pensados sobre as questões étnico-raciais. Reconhecer que esses bibliotecários negros estão contribuindo para a construção de uma Biblioteconomia diversa, representativa, antirracista, afro-diaspórica, é importante para desconstruir esse pensamento de que somente o homem branco produz ciência.

A gente tem que desconstruir essa questão relacionada de ver o homem branco nesse lugar de cientista e descolonizar essa Biblioteconomia que ainda é eurocentrada e americanizada. Ou seja, a gente só olha para fora e tenta colocar aquilo que eles produzem dentro do Brasil sem pensar outras realidades que fazem parte do contexto brasileiro e que são muito específicas. Por exemplo, a gente tem que pensar que hoje nós temos alguns impeditivos que fazem com que a população negra ainda esteja em um espaço de desigualdade, tanto educacional quanto financeiro e político.

Quantos de nós estamos representados dentro do Congresso Nacional ou de outros espaços? Quando a gente analisa essa representatividade dessa população, ela não está lá nesses passos de tomada de decisão e de poder, inclusive na ciência. Quando a gente vai olhar palestras, publicações de livros, a maioria dessas publicações é feita por pessoas brancas e quando nós reivindicamos o nosso lugar, o nosso protagonismo, nós somos até taxados de pessoas radicais, mas o movimento da Biblioteconomia Negra não exclui a produção científica feita por pessoas não negras. Ao contrário, é parte dessa produção científica que também está refletindo sobre questões fundamentais para a humanidade.

Ibict: Quais os caminhos para ampliar discussões democráticas sobre racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância?

Franciéle Silva: Para mudar a situação que nós temos hoje – infelizmente muito negativa de muitos retrocessos dentro das políticas públicas, é preciso formar pessoas. Os cursos de Biblioteconomia devem ser modificados para a inserção das questões étnico-raciais, e outras também, como as de gênero, por exemplo. Como é que a gente vai capacitar bibliotecários para serem sensíveis a essas causas se dentro dos nossos meios, os nossos profissionais que estão formando pessoas não estão conscientes de que isso é importante?

Muitas vezes, os docentes também podem propagar um pensamento meritocrático, ou seja, é como se colocasse população negra e branca no mesmo lugar, quando a gente sabe que não é isso: a população negra está em desigualdade desde que o país começou. Os profissionais que formam os bibliotecários têm uma responsabilidade muito forte nesse sentido.

O professor tem que lutar para ter questões relacionadas às humanidades dentro dos projetos político-pedagógicos. Deve fazer parte da nossa profissão, da nossa consciência ético-política enquanto profissionais. Nós temos que trazer representatividade e ajudar na criação de identidade dessas populações, do conhecimento dos aspectos sócio-históricos que nos construíram enquanto população brasileira e, principalmente, mostrar o outro lado que não esse que é hegemônico.

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Para ler o trabalho “Biblioteconomia negra brasileira: caminhos, lutas e transformação”, clique aqui.

* Nesta entrevista, quando ler a palavra “bibliotecário”, leia-se bibliotecário ou bibliotecária.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict
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