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Segunda, 04 Mai 2020 16:35

20 anos de pesquisas de Maria Nélida: conheça o trabalho premiado de aluna do PPGCI

Arte: Andréa Fleury/Ibict Arte: Andréa Fleury/Ibict

Os 20 anos de pesquisas e publicações da filósofa Maria Nélida González de Gómez sobre o conceito de “regime de informação”, tema amplamente estudado por pesquisadores em Ciência da Informação, foram a motivação de um estudo conduzido por Thiara dos Santos Alves, aluna do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

O estudo histórico e epistemológico de Thiara Alves, que foi premiado durante a 20ª edição do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib) de 2019, buscou destacar as contribuições de autores que se dedicaram aos estudos de regimes de informação e de políticas de informação, como Bernd Frohmann, Sandra Braman e Hamid Ekbia, para as reflexões desenvolvidas por González de Gómez sobre o tema.

Intitulado “Informação, política e poder: 20 anos do conceito de regime de informação em Maria Nélida González de Gómez”, o texto foi orientado por Arthur Coelho Bezerra, docente do PPGCI. Em entrevista para o site do Ibict, Thiara Alves conta como surgiu a ideia do estudo, explica sobre a produção intelectual da professora González de Gómez e detalha o conceito de regime de informação.

Confira!

Ibict: Como surgiu a ideia do estudo?

Thiara Alves: O estudo histórico-epistemológico sobre regime de informação foi resultado da bagagem de conhecimentos e de reflexões produzidos em duas disciplinas que cursei no doutorado. Em 2017, a professora Maria Nélida González de Gómez ministrou a disciplina “Regime de Informação” e esse foi o momento no qual comecei a conhecer e acompanhar as discussões sobre a temática. No ano seguinte, a disciplina “Políticas do Conhecimento e Regime de Informação” foi ofertada pelo professor Arthur Coelho Bezerra, que apresentou outros textos e discussões. A partir daí, fui sistematizando e aprofundamento os meus estudos, inclusive, por meio da troca de ideias, bibliografias e dúvidas com professores e colegas. Como o desenvolvimento teórico da pesquisa estava em estágio avançado, o professor Arthur Bezerra me incentivou e me ajudou a comunicar os resultados no Enancib.

Ibict: Qual o motivo da escolha da produção intelectual de Maria Nélida González de Gómez como base para seu trabalho?

Thiara Alves: Eu admiro muito a produção intelectual da professora González de Gómez e a pessoa humilde e disponível que ela é. Ainda que regime de informação seja uma temática fortemente desenvolvida pela pesquisadora, não posso deixar de mencionar que ela também se destaca na Ciência da Informação pelas relevantes contribuições na produção acadêmica sobre ética, epistemologia, política e filosofia da informação. A professora González de Gómez foi quem introduziu o termo “regime de informação” na bibliografia científica brasileira. Isso ocorreu em 1999, por meio do artigo “O caráter seletivo das ações de informação”. Além disso, no Brasil, ela é a principal referência bibliográfica sobre o assunto. Há mais de duas décadas, ela desenvolve o conceito de regime de informação, publica trabalhos de referência na área e divulga no nosso país os estudos de autores como Bernd Frohmann, Sandra Braman e Hamid Ekbia. Por isso tudo, ela merece ser reconhecida e foi o motivo da escolha para o estudo.

Ibict: Por que é importante estudar o conceito de “regime de informação”?

Thiara Alves: Regime de informação é um recurso interpretativo ou, metaforicamente, uma espécie de “óculos” de leitura para investigar as relações entre informação, política e poder. Os estudos sobre esse recurso interpretativo e que o utilizam como ferramenta de análise são importantes por complementarem e, dialeticamente, serem complementados pelas análises de política da informação. Portanto, os estudos a partir do conceito de regime de informação não se restringem às leis e políticas de informação, uma vez que isso inclui, por exemplo, atores estatais e não estatais, redes sócio comunicacionais formais e informais, o contexto social e cultural e os problemas do mundo prático.

Na atualidade, as novas condições tecnológicas e sociais contribuíram para que os fenômenos da informação e da comunicação ganhassem força política, econômica e social. Podemos observar, por exemplo, que o poder da informação não é mais apenas uma commodity, mas é também uma força constitutiva das realizações dos diversos aspectos do complexo social. Assim, acredito que os estudos sobre regime de informação são cada vez mais importantes, por permitirem análises transversais sobre o modo dominante das formas estratégicas dos fenômenos informacionais, podendo as análises recaírem sobre aspectos políticos, econômicos, sociais, culturais, epistêmicos, entre outros.

Ibict: A pesquisa realizada pelo artigo teve algum desdobramento futuro? Caso não, recomenda estudos nesse sentido?

Thiara Alves: Dentro das dinâmicas do grupo de pesquisa Escritos (Estudos Críticos em Informação, Tecnologia e Organização Social), eu e o professor Arthur Bezerra seguimos com as pesquisas na área e pretendemos publicar um novo trabalho sobre a aproximação do conceito de regime de informação com a teoria crítica, perspectiva a qual ele também aborda no livro “iKritica: estudos críticos em informação”. Reconhecemos que regime de informação tem seu constructo teórico ancorado e desenvolvido sobre conceitos e ideias de Michel Foucault. Mas, esta não foi a única referência explorada na elaboração de tal conceito poli epistêmico. Deste modo, pretendemos, neste trabalho futuro, alargar as possibilidades de referenciais de análise.

Em um primeiro momento, pode até parecer inconciliável inserir em um conceito com fortes elementos foucaultianos, uma leitura de aproximação com a teoria crítica, marcada pelas fontes marxistas. Porém, o que pretendemos não é conciliar autores, mas aproveitar, com limites, as diversas contribuições sobre a problemática do poder e explorá-las nas análises informacionais. A vertente crítica na leitura de regime de informação pretende explorar não somente o exercício das estratégias do poder, mas, principalmente, os objetivos maiores, dentro de uma ordem política e econômica. Nesse sentido, a aproximação com a teoria crítica pode acrescentar ao conceito de regime de informação análises que evidenciem as tensões centrais existentes na sociedade, os elementos de dominação e de resistência e as possibilidades e os obstáculos para a emancipação de um determinado modo informacional hegemônico.

O trabalho completo de Thiara Alves pode ser lido clicando aqui.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Última modificação em Segunda, 04 Mai 2020 19:01
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