10,7 milhões de brasileiros têm deficiência auditiva, revelou um estudo publicado em 2019. O montante equivale a 5% da população e extrapola, por exemplo, o número de habitantes de países como Portugal e Grécia. Foi essa compreensão que guiou o trabalho do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) na promoção das línguas de sinais em periódicos científicos. O modelo visa apoiar a tradução de revistas científicas em Libras e tem conclusão prevista para julho de 2021.
O projeto, que teve início em 2015, surgiu como resposta à chamada pública Viver sem Limites, da Finep (Financiadora de Inovação e Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), que visava selecionar projetos para a inclusão social de pessoas com deficiência. A pesquisa tem caráter interdisciplinar e é tocada por uma equipe de dez pesquisadores oriundos de diferentes estados, áreas e instituições. Dentre eles, dois tecnologistas e um coordenador do Ibict.
Um dos diferenciais do projeto é o uso da escrita de sinais (Signwriting) na tradução para Libra, na qual cada termo é acompanhado de um vídeo de apoio com a interpretação do sinal correspondente. O objetivo é explicar termos técnicos e garantir que a língua de sinais não figure como um recurso auxiliar, mas como o idioma principal.
Para desenvolver o modelo de tradução, os pesquisadores escolheram o software livre Open Journal Systems (OJS), uma ferramenta apoiada pelo Ibict e desenvolvida para a gestão de periódicos no formato eletrônico. À medida que o modelo de tradução for aplicado no OJS as descrições dos termos empregados serão registradas no Omeka, um software de acesso aberto usado para o gerenciamento de coleções digitais. O objetivo é desenvolver um glossário de comunicação científica em Libras.
Na avaliação de Ronnie Fagundes, tecnologista do Ibict e pesquisador no projeto, ao trazer a língua de sinais para o primeiro plano, a ferramenta de tradução passa a respeitar o direito dos surdos de usar sua língua nativa. A afirmação vai ao encontro da Lei nº 10.436, de 2002, e do Decreto nº 5.626, de 2005, que regulamentam a Língua Brasileira de Sinais.
O trabalho de uma frente de linguistas se mostrou essencial para o desenvolvimento do projeto, avalia o tecnologista do Ibict. O maior desafio da pesquisa consiste em traduzir para Libras uma linguagem técnica: "Termos associados ao uso do OJS não estão definidos em Libras, por isso buscamos amparo nos símbolos e notações que já existem para criar sinais específicos", resume Ronnie. O projeto está alinhado ao grupo de interesse em acessibilidade do PKP (Public Knowledge Project) e com os criadores do Signwriting.
O trabalho dos pesquisadores foi pautado pela preocupação com a interação do surdo com a nova interface em Libras, visto que a aplicação do Signwriting em interfaces de usuário ainda é incipiente ao redor do mundo. As publicações do projeto podem ser acessadas por meio do endereço http://swojs.ibict.br .
Mariana Lozzi
Coordenação de Articulação, Geração e Aplicação de Tecnologia - COTEC.
Redes Sociais