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Quinta, 17 Setembro 2020 10:37

Entrevista com Lena Vania Pinheiro: “É fundamental que exista afeto na caminhada entre orientador e orientando”

Entre as professoras mais referenciadas e queridas quando o assunto é a história do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), está Lena Vania Ribeiro Pinheiro.

Lena Vania Pinheiro é doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - 1997), mestre em Ciência da Informação pelo PPGCI/Ibict/UFRJ (1982), especialista em Redes de Bibliotecas pela Universidade de São Paulo (USP - 1972) e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará (UFPA - 1966), onde também iniciou sua vida acadêmica como professora de História da Arte do Departamento de Letras e Artes.

Atualmente, já aposentada, continua exercendo atividades de pesquisa e ensino no Ibict, como professora permanente do PPGCI/Ibict/UFRJ, em uma história que já dura mais de 30 anos.

Ao longo da carreira, Lena Vania Pinheiro publicou livros e capítulos de livros e artigos de periódicos, bem como comunicações em congressos, no Brasil e no exterior, ultrapassando uma centena de orientações de mestres e doutores, sobretudo no Ibict, e em outras instituições e universidades, em Ciência da Informação e áreas interdisciplinares. De 2006 a 2013 foi coordenadora do portal de divulgação científica do Ibict, o Canal Ciência, quando participou de oficinas e palestras para alunos e professores.

Em entrevista para o site do Ibict, Lena Vania Pinheiro detalha toda essa história.

Confira!

Ibict: Qual a história da senhora com o PPGCI/Ibict/UFRJ? Como começou?

Lena Vania Pinheiro: Sou uma paraense formada em biblioteconomia. O fundador do curso de biblioteconomia do Pará foi o médico Clodoaldo Beckmann, um grande cirurgião que era encantado com a informação. Ele foi aluno do curso de especialização do então IBBD [Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação], o conhecido Curso de Documentação Científica [CDC], e contribuiu muito para a formação dos estudantes de biblioteconomia e eu estava entre eles. Clodoaldo Beckman levou para a nossa graduação conhecimentos de Documentação aprendidos no IBBD, grande documentalista que era. Depois, como eu tinha cursado História da Arte na faculdade e me identificado com a disciplina, fiz um concurso para professora de História da Arte no Pará e fui aprovada. Eu ministrava aula de História da Arte quando decidi fazer um mestrado na USP em História da Arte, no ano 1977. Levei meu projeto de pesquisa pronto, sobre Arquitetura religiosa no interior do Pará, mas, quando cheguei à USP para a seleção, não tinha nenhum professor orientador de História da Arte naquele ano. Decidi então tentar uma vaga na Antropologia da Arte e o meu projeto não foi aceito, muito naturalmente porque não era dessa área. Nesse período, estava aberta também a seleção para o mestrado em Ciência da informação e foi então que cursei o mestrado na área.

Ibict: Há quanto tempo a senhora está no PPGCI atuando como professora?

Lena Vania Pinheiro: Depois do mestrado, dei continuidade à minha história no Ibict, quando fui contratada para atuar como tecnologista, em Brasília.  Em 1985, solicitei a mudança para trabalhar no Ibict do Rio de Janeiro na área de ensino e pesquisa, quando eu voltei a atuar na docência do CDC. Era um curso de grande destaque na época, além do mestrado em Ciência da Informação porque, naquela fase, por falta de doutores na área, mestres podiam ministrar aulas e até orientar, se devidamente autorizados pela UFRJ. Realizei o doutorado algum tempo depois, em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e lá me titulei no ano 1997.

Ibict: Poderia contar sobre alguns dos desafios enfrentados pelo PPGCI ao longo desses 50 anos?

Lena Vania Pinheiro: O PPGCI enfrentou muitos desafios ao longo da sua trajetória. Entre estes, na época em que Brasília foi criada e muitos órgãos foram transferidos do Rio de Janeiro. O Ibict foi então dividido nas áreas de ensino e pesquisa, no Rio de Janeiro, e serviços e produtos, que foi transferida para Brasília.  Ao longo dos anos, essa situação tornou-se difícil. Posteriormente, foi criado um departamento de ensino e pesquisa que hoje é a Coordenação de Ensino e Pesquisa, Ciência e Tecnologia da Informação [COEPE]. Antes não existia o processo de Comitê de Busca com mandato de diretoria estabelecido e tivemos períodos de instabilidade com diretores interinos, momentos nos quais o PPGCI enfrentou algumas dificuldades para se manter. Sobretudo em função do famoso Relatório Tundisi, que recomendava que institutos de pesquisa não deveriam oferecer pós-graduação, somente as universidades. Hoje nós vivemos uma situação completamente diferente. Desde o mandato do professor Emir Suaiden, e agora sob a gestão da professora Cecília Leite, conseguimos nos consolidar e nos fortalecer.  

Ibict: Como é a experiência de ter sido orientanda e posteriormente orientadora no PPGCI? Qual a importância dessa troca para alunos e professores?

Lena Vania Pinheiro: É uma relação fundamental. Há muita troca de experiências entre orientandos e orientadores. Sempre digo que os alunos da graduação são uma fonte de juventude para gente. Na graduação, os alunos são muito criativos e livres para se manifestar, algo que é um aprendizado não apenas para o professor, mas também para nós como seres humanos.  Na pós-graduação, há um aprofundamento e essa troca mais profunda aumenta os nossos conhecimentos, sem deixar a criatividade de lado, é claro. O aluno vem sempre com muitas ideias. 

Com muitos alunos, nós professores estabelecemos amizades para o resto das nossas vidas. É interessante porque, muitas vezes, nós temos orientandos de várias idades, inclusive das nossas idades.  Outro aspecto positivo acontece quando nós vemos o estabelecimento de amizades e parcerias acadêmicas entre os nossos alunos. Eu, por exemplo, sou amiga da minha ex-orientadora [Gilda Braga] há quase 40 anos. É muito interessante poder unir o aspecto acadêmico e científico ao afetivo. É fundamental que exista afeto e amizade na caminhada entre orientador e orientando. Fazer pesquisa é uma trajetória árdua e difícil, daí ser importante que nessa caminhada exista afeto, até para superar os momentos mais tensos.

Ibict: Ao longo da carreira, a senhora enfrentou desafios por ser uma mulher cientista e docente?

Lena Vania Pinheiro: Nunca percebi problemas na minha trajetória como docente e pesquisadora por ser mulher. O que eu percebo é uma dificuldade entre áreas porque a Ciência da informação é uma área muito jovem. Cientificamente falando e no Brasil, é uma ciência com 50 anos em média. Não é possível comparar a história da Ciência da Informação, por exemplo, com a física ou a medicina. Então eu percebi algumas vezes um olhar diferente para as áreas que estão em vias de construção e consolidação. Esses desafios ocorreram muito nas buscas por financiamento entre as pesquisas em Ciência da Informação e outras áreas.

Ibict: Qual a importância das mulheres para a história da Ciência da Informação no Brasil?

Lena Vania Pinheiro: Eu diria que é fundamental, inclusive porque a Ciência da Informação no Brasil foi uma ciência fundada por mulheres. Na própria história do Ibict, há predominância de diretoras mulheres, desde a Lydia de Queiroz Sambaquy, Celia Zaher, Hagar Espanha Gomes, passando por Yone Chastinet, até chegar à atual diretora, Cecília Leite.  Hoje em dia, eu diria que a Ciência da Informação conta com pesquisadores homens e mulheres talvez porque haja interdisciplinaridade muito forte na nossa área, com a presença de professores de diferentes formações. Hoje, essas forças estão mais equilibradas, mas ainda assim as mulheres foram e continuam sendo fundamentais para o crescimento e o fortalecimento da Ciência da Informação.

Ibict: Em tempos de Internet e fake news, qual o futuro que a senhora vê para a Ciência da Informação?

Lena Vania Pinheiro: A Ciência da Informação tem muita importância no presente e terá no futuro também. A base de tudo é informação.  Quanto maior for o número de informações circulando, mais será necessário existir organicidade dos conhecimentos. É fato que o mundo mudou muito, então é preciso se preparar para lidar com essa nova realidade. As fake news, por exemplo, são informações que precisamos gerenciar. Quando a Ciência da Informação surgiu nos Estados Unidos, veio como fruto de todos os envolvidos no desenvolvimento de pesquisas no âmbito da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos sempre tiveram a percepção do quanto a informação é estratégica e custou muito tempo para o Brasil perceber isso. Não é à toa que Estados Unidos financiam programas e ações nessa área, porque sabem que aquela informação é oriunda de pesquisa e traz muito conhecimento novo. Informação é poder, este é um lugar comum, mas verdadeiro desde sempre, e isso tem ocorrido cada vez mais. 

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Esta entrevista integra uma série do mês de setembro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Última modificação em Segunda, 28 Setembro 2020 16:29
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