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O Instituto Nacional de Tecnologia (INT), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), promoveu um evento ao vivo com sete diretoras de unidades de pesquisa do MCTI em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março. A diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Cecília Leite, representou o Instituto durante o evento.

A live também contou com a participação de Ana Luisa Albernaz, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Antonia Franco, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Giovanna Machado, do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), Iêda Caminha, do INT, Mônica Tejo Cavalcanti, do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), e Silvia França, do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem). O evento foi mediado por Andréa Lessa, do INT.

Durante a live, as diretoras apresentaram suas trajetórias acadêmicas, pessoais e profissionais até a direção das suas respectivas unidades de pesquisa do MCTI. Foram discutidos temas como a importância da equidade entre homens e mulheres, o papel central do incentivo e do fomento à presença delas na ciência e, também, sobre os desafios de conciliar suas vidas pessoais com as profissionais e as acadêmicas. Além disso, as diretoras destacaram os desafios enfrentados em suas unidades durante a pandemia e como incentivar meninas e adolescentes a buscarem a ciência e a tecnologia em seus caminhos profissionais.

Diretora do Ibict conta sobre a importância da informação durante a pandemia: Durante o evento, Cecília Leite parabenizou o INT pelos seus 100 anos e destacou a importância da parceria entre todas as diretoras para o crescimento e o fortalecimento da ciência, da tecnologia e da inovação no país. Ao longo da apresentação, Cecília Leite contou sobre o aniversário do Ibict, que fez 67 anos em fevereiro de 2021. “O Ibict foi criado por uma mulher e sou a sexta mulher a dirigir a instituição. Hoje o Ibict trabalha fortemente com as Tecnologias da Informação e da Comunicação na organização do conhecimento”, disse Cecilia Leite.

A diretora contou a trajetória dela desde a juventude, quando veio para Brasília acompanhar seu pai, que chegou na cidade para atuar na organização do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Desde esse período, a partir da atuação com as temáticas culturais, Cecilia Leite teve a oportunidade de conhecer o universo da Biblioteconomia e encantou-se com a área.

Em sua trajetória, Cecília Leite tornou-se pesquisadora de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e foi cedida ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para atuar, na época, como Coordenadora Geral de Pesquisa e Desenvolvimento Novos Produtos (CGPD) do Ibict, e, posteriormente, como diretora. Atualmente, Cecilia Leite encontra-se em sua segunda gestão como diretora do Ibict.

A diretora do Ibict contou também sobre a trajetória do mestrado (1996) e do doutorado (2003) em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, nos quais destacou-se pela atuação em ações de inclusão social. Em 2002, na pesquisa de doutorado, Cecília Leite desenvolveu uma metodologia reconhecida internacionalmente de inclusão digital para a inclusão social (Escola Digital Integrada - EDI), colaborando para a criação de normas na área, como a Lei 3.275/2003, que assegura a inclusão digital aos alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal.

Sobre a importância da informação para o mundo, a diretora do Ibict citou a relevância da ciência durante a pandemia. Nesse difícil período para a humanidade, como explicou Cecilia Leite, cientistas do mundo todo trocaram informações sobre a prevenção, o tratamento e a vacinação para a doença. “A informação teve um papel fundamental na criação e produção das vacinas porque as informações sobre a COVID-19 foram disponibilizadas e as tecnologias possibilitaram a integração desses conhecimentos e, assim, o avanço pôde ser mais rápido do que foi no passado”, pontuou a diretora.

A live está disponível integralmente no canal do Instituto Nacional de Tecnologia no Youtube. Clique aqui para assistir ou veja abaixo.

 

 

Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Publicado em Notícias

Em celebração ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a equipe do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) recomenda a leitura de entrevistas realizadas em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destaca o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.

As seis histórias de vida das mulheres aqui relatadas contam a dedicação, o profissionalismo e a paixão pela Ciência da Informação em 50 anos de uma longa trajetória. Veja as entrevistas com Cecilia Leite Oliveira, Célia Zaher, Gilda Olinto, Lena Vania Pinheiro, Regia Marteleto e Rosali Fernandez.

Confira!

Entrevista com Cecília Leite: do encanto pelas bibliotecas até a direção do Ibict

Mestre (1996) e doutora (2003) em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, Cecília Leite destaca-se pela atuação em ações de inclusão social. Em 2002, na pesquisa de doutorado, Cecília Leite desenvolveu uma metodologia reconhecida internacionalmente de inclusão digital para a inclusão social (Escola Digital Integrada - EDI), colaborando para a criação de normas na área, como a Lei 3.275/2003, que assegura a inclusão digital aos alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal.

Cecília Leite é pesquisadora de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cedida ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para atuar, na época, como Coordenadora Geral de Pesquisa e Desenvolvimento Novos Produtos (CGPD) do Ibict, e, posteriormente, como diretora. Atualmente, Cecilia Leite encontra-se em sua segunda gestão como diretora do Ibict. Acesse aqui a entrevista.

Mulheres na vanguarda do PPGCI: Entrevista com a professora Célia Ribeiro Zaher

Doutora em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), especialista em Library Science pela Columbia University (1963) e graduada em Biblioteconomia pela Biblioteca Nacional (1962), Célia Zaher foi professora do Curso de Documentação Científica do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), o antigo Ibict, de 1954 a 1970.

A professora também foi presidente do IBBD entre os anos 1968 e 1972, além de diretora da Biblioteca Nacional (1982-84) e recentemente de 1997 a 2005. De 1991 a 1996, foi diretora do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME). Leia aqui a entrevista com Célia Zaher.

Entrevista com a professora Gilda Olinto: por uma ciência mais inclusiva

Gilda Olinto é membro do corpo docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. A professora é graduada em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tem mestrado em Ciência Política pela Universidade de Michigan e doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em entrevista para o site do Ibict, Gilda Olinto conta sobre a atuação nas pesquisas envolvendo gênero e ciência, detalha a história dela no PPGCI/Ibict/UFRJ e ressalta o papel das bibliotecas públicas. Clique aqui para ler.

Entrevista com Lena Vania Pinheiro: “É fundamental que exista afeto na caminhada entre orientador e orientando”

Conheça a história da professora Lena Vania Pinheiro, doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - 1997), mestre em Ciência da Informação pelo PPGCI/Ibict/UFRJ (1982), especialista em Redes de Bibliotecas pela Universidade de São Paulo (USP - 1972) e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará (UFPA - 1966). Lena Vania Pinheiro iniciou sua vida acadêmica como professora de História da Arte do Departamento de Letras e Artes. Clique aqui para ler.

Entrevista com a professora Regina Marteleto: uma história dedicada à Ciência da Informação

Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, mestre em Ciência da Informação e da Comunicação pela École des hautes études en sciences sociales (França), e graduada em Letras (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas) e Biblioteconomia (Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG), Regina Marteleto já ocupou o cargo de presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB), entre 2003 e 2006.

A longa carreira da professora foi dedicada a vários temas da Ciência da Informação, como cultura e informação; conhecimento, informação e sociedade; informação e comunicação em saúde; mediações infocomunicacionais em redes sociais; e teoria social, epistemologia e interdisciplinaridade nos estudos da informação. Clique aqui para ler a entrevista.

Entrevista com Rosali Fernandez de Souza: “Vale a pena ser um cientista da Informação”

Rosali Fernandez de Souza possui graduação em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Santa Úrsula (1968), especialização em Documentação Científica (1969) e mestrado em Ciência da Informação (1973) pelo PPGCI/Ibict/UFRJ, além de doutorado pela Polytechnic of North London, conferido pelo Council for National Academic Awards (1984).

Em entrevista exclusiva ao site do Ibict, a professora conta sobre a história dela com a Ciência da Informação e com o PPGCI/Ibict/UFRJ, detalha a paixão pela Biblioteconomia e revela os autores que mais inspiraram suas pesquisas. Leia aqui a entrevista com Rosali Fernandez de Souza.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Publicado em Notícias

Está disponível para download gratuito o livro “O protagonismo da mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação: celebrando a contribuição intelectual e profissional de mulheres latino-americanas”. A publicação conta com a organização de Franciéle Garcês e Nathália Romeiro, mestres pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

A publicação integra uma série de livros sobre o protagonismo da mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação. Os dois primeiros livros da série – O Protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação (2018) e O protagonismo da Mulher na​ Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e Ciência da Informação (2019) – também estão disponíveis para download gratuito no site do Selo Nyota, clicando aqui.

No terceiro livro da série são debatidas questões envolvendo a trajetória de mulheres na Biblioteconomia e na Ciência da Informação e o papel da historicidade do pensamento de mulheres, especialmente as mais periféricas e subalternizadas, em relação à formação do campo da Ciência da Informação no mundo e no Brasil. A publicação também destaca a atuação de mulheres de destaque na área, como Isabel Espinal e Rosali Fernandez de Souza.

O livro conta com o prefácio de Leyde Klébia Rodrigues da Silva, professora assistente do Departamento de Documentação e Informação do Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia (DDI/ICI/UFBA), e doutora em Ciência da Informação pelo PPGCI/Ibict/UFRJ.

Conheça mais sobre a estrutura do livro na live de lançamento, realizada em dezembro de 2020, disponível em versão integral no Youtube clicando aqui.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

 

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Entre os principais nomes que marcaram a história da Ciência da Informação no país está a professora Célia Ribeiro Zaher. A longa carreira de Célia Zaher perpassa toda a trajetória da Ciência da Informação no Brasil e a criação do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, o PPGCI (convênio entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Ibict, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ), em 1970. Em entrevista exclusiva para o site do Ibict, a professora Célia Zaher conta um pouco sobre o caminho de tantos anos de dedicação à ciência.

Doutora em Direito do Trabalho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), especialista em Library Science pela Columbia University (1963) e graduada em Biblioteconomia pela Biblioteca Nacional (1962), Célia Zaher foi professora do Curso de Documentação Científica do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), o antigo Ibict, de 1954 a 1970. A professora também foi presidente do IBBD entre os anos 1968 e 1972, além de diretora da Biblioteca Nacional (1982-84) e recentemente de 1997 a 2005. De 1991 a 1996, foi diretora do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME).

Célia Zaher ocupou o cargo de Coordenadora de Ensino e Pesquisa, Ciência e Tecnologia da Informação do Ibict, concomitantemente com a coordenação do PPGCI/Ibict/UFRJ, entre os anos 2008 e 2011. Atualmente, Célia Zaher é professora titular aposentada da Universidade Federal Fluminense (UFF) e aposentada da UNESCO, onde atuou como diretora de diversos departamentos, como biblioteconomia, informação, cultura, audiovisual, intercâmbios culturais e comunicação.

Confira a entrevista!

Ibict: Poderia contar sobre o início da sua formação profissional e acadêmica? Por que a senhora escolheu a graduação em Biblioteconomia? Era uma paixão?

Célia Zaher: No início, não era uma paixão. Meu pai e meu avô eram formados em Direito e era o caminho que eu inicialmente pretendia seguir. Quando eu tinha 17 anos, comecei a buscar minha independência financeira e decidi procurar um emprego. Nessa busca, encontrei uma vaga na biblioteca da UFRJ. Quando cheguei lá, eu era a única funcionária e depois passei a ser a chefe de mim mesma. Era uma biblioteca enorme! Comecei trabalhando diretamente com a inscrição dos livros que entravam na biblioteca. Nessa época, a doutora Lídia Sambaqui era a coordenadora e estava tentando organizar a biblioteca. Quando eu fui apresentada a ela, lembro-me que ela disse: “O que vocês esperam que eu faça com essa menininha?”. Foi uma ducha de água fria e, claro, algo perfeitamente normal no momento em que eu comecei a trabalhar na biblioteca, pois não tinha experiência profissional. 

Com o tempo, foram agregados mais profissionais à biblioteca da UFRJ, os quais começaram a atuar com a catalogação, bem como outros trabalhos. Depois dessa experiência, gostei da área e resolvi me inscrever no curso de Biblioteconomia, que, na época, era na Biblioteca Nacional. Posteriormente, consegui uma bolsa para estudar nos Estados Unidos e pude prosseguir com os meus estudos. Quando retornei, já tinha uma base profissional e acadêmica muito boa e passei a trabalhar no Ibict, no ano 1955. 

Ibict: Qual foi a atuação da senhora em relação aos anos iniciais da Ciência da Informação e do PPGCI? Poderia falar também sobre as dificuldades enfrentadas?

Célia Zaher: Quando eu voltei do período em que passei fora do país, a Hagar Espanha Gomes, que já ocupou o cargo de presidente do IBDD, se interessou também pelo assunto e começamos a estudar juntas. Escrevemos em 1972 um artigo que foi publicado na Revista Ciência da Informação sobre o que era essa ciência (clique aqui para ler o artigo). Daí em diante, a área começou a crescer. Nessa época, os bibliotecários tinham dificuldades de aceitar, desde a época do Curso de Documentação Científica, que pessoas de outras áreas trabalhassem com a área de informação. No ano 1968, foi realizado um seminário na área da informática com ideias de que a informática teria um papel preponderante nas bibliotecas. Aos poucos, verificou-se que o conceito de biblioteconomia era muito mais amplo. Diante das mudanças e desafios no campo, foi criado o PPGCI.

Ibict: Quais os futuros possíveis que a senhora enxerga para a Ciência da Informação?

Célia Zaher: Eu acredito que no futuro, cada vez mais, as bibliotecas vão ser voltadas e dedicadas para a questão do acesso e cada vez menos para o tratamento dos próprios documentos, os quais serão fontes de informação. Hoje em dia, já temos a digitalização de livros e documentos. A formação de redes para digitalização de livros e materiais é a nova tendência. O usuário não tem se importado mais com o fato de que esse acesso seja digital. O Brasil, para formar os seus profissionais, tem que acompanhar as mudanças que estão acontecendo. Por exemplo, as mudanças na história do PPGCI nos últimos anos revelam que a Ciência da Informação é muito mais abrangente do que pensamos. 

Ibict: Uma das linhas do trabalho do Ibict é a divulgação e o fortalecimento da Ciência Aberta. Como a senhora avalia a Ciência Aberta?

Célia Zaher: É uma tendência que está crescendo. Precisamos disseminar a ideia de que é importante compartilhar e não criar isoladamente ou não tentar fazer atividades científicas duplicadas. É preciso que sejam estabelecidas redes em Ciência Aberta e, para isso, as grandes universidades devem tomar a frente dessa temática. As universidades ainda não estão conscientes do importante papel que elas desempenham para a promoção da Ciência Aberta. Vemos por enquanto muitos esforços individuais de pesquisadores e instituições em todo o mundo. O Ibict tem atuado muito nas áreas técnicas e de divulgação da Ciência Aberta, mas ainda são necessários muitos recursos e investimentos de alto porte, bem como o reconhecimento de que essa não é uma tarefa que é individual, mas sim coletiva.

Qual a importância do PPGCI para a Ciência da Informação no Brasil? A senhora poderia contar sua história e a relação com o PPGCI?

Célia Zaher: O PPGCI mudou a história da Ciência da informação no Brasil, colaborando para a disseminação do conhecimento. O PPGCI teve diversas fases, mas duas delas foram fundamentais. Uma delas foi a própria criação do PPGCI, e a outra foi uma reforma do programa, que ocorreu em 2008. Quando assumi a presidência do antigo IBBD (1968-1972), a preocupação era o destino dos Cursos de Documentação Científica, que tinham prestado uma contribuição enorme. Chegou um momento nos cursos em que percebemos que era necessário aumentar nossos conhecimentos na área. A responsabilidade do então IBBD naquela época era liderar algo que fosse novo e moderno na Ciência da Informação. 

Percebemos, então, que seria necessário trazer professores de outros países de universidades renomadas para o mestrado em Ciência na Informação, com o objetivo de formar nosso próprio corpo de professores brasileiros. Para implementar essa ideia eram necessários recursos. Recorremos à ajuda de órgãos de apoio de ensino e pesquisa. Na ocasião, houve o apoio da Embaixada Britânica, da CARI Foundation e da Ford Foundation. Foram selecionados professores de instituições renomadas de biblioteconomia, que vieram para o Brasil atuar no PPGCI. Na época, o curso tinha dois obstáculos muito grandes. Um deles é que não tínhamos material didático necessário e precisamos de ajustes para isso acontecer. O outro desafio era começar esse curso de formação. Nesse primeiro curso, com o intuito de formar professores no Brasil, foram incluídos os diretores das diferentes sessões do IBBD para que eles pudessem se atualizar. Só podia se registrar no curso quem fosse professor de graduação no país.

Todas as matérias seguiram os padrões internacionais.  O objetivo era trabalhar por uma melhoria profissional que se refletiria na qualidade dos serviços prestados pelos profissionais da área e também, ao mesmo tempo, para os professores exercerem seus mandatos legitimamente e dentro das vivências exigidas pela Capes para a existência de um curso de pós-graduação. Era preciso que o PPGCI trouxesse novas reflexões de conceitos que na época ainda não existiam no Brasil. O conceito de Ciência da Informação utilizado em outros países ainda era incipiente no Brasil. 

Então foram convidados professores como Derek Langridge, Jack Mills, LaVahn Overmeyer, Tefko Saracevic e Wilfrid Lancaster, provenientes de universidades dos Estados Unidos e da Inglaterra. Eles trouxeram a bagagem de toda a literatura que era necessária para cursos que não existiam no Brasil. Posteriormente, também foi constituída uma biblioteca especializada no PPGCI. Após a criação do PPGCI, em 1970, durante a minha presidência fui selecionada para um curso de direção da biblioteca e arquivos da Unesco em Paris e eu fui em 1972, onde permaneci até 1991, o que fez com que eu tivesse que me afastar do PPGCI. 

Eu tive o privilégio de ser orientadora de duas grandes referências na área. Uma que é Hagar Espanha Gomes e a outra que é Yone Chastinet. Depois da minha temporada fora do Brasil, eu não imaginava que eu voltaria para a coordenação do PPGCI tantos anos passados, o que aconteceu entre 2008 e 2011, a partir de um convite do professor Emir Suaiden. Ele me fez um convite naquela época para que eu assumisse a coordenação de ensino e pesquisa para a transição do PPGCI da Universidade Federal Fluminense (UFF) para a UFRJ. No ano 2008, foi realizada uma mudança curricular total, agregando professores da UFRJ e a contratação de novos professores pelo Ibict, abrindo espaço para novas disciplinas. Nesse mesmo período foram criados os seminários de informação científica, que continuaram com grande sucesso.

Ibict: A senhora poderia dar algum conselho para os cientistas da informação?

Célia Zaher: Meu conselho é que os cientistas da informação se atualizem sempre. A atualização é muito importante na formação. Recomendo que os cientistas da informação não estudem e participem apenas pelos materiais e seminários nacionais, repetindo o que já é feito nacionalmente. Além da literatura nacional, é preciso sempre conhecer a literatura internacional, a qual pode oferecer outros campos de atuação. Nesse contexto, as bibliotecas também precisam se atualizar. Hoje em dia, é possível ler tudo o que se publica no exterior graças aos repositórios digitais, daí a importância dos repositórios. Sendo assim, a impossibilidade de sair do país não é mais desculpa para não ler literatura internacional.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Publicado em Notícias

Depois de um estágio na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (atual Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais), a então estudante de Biblioteconomia e hoje professora Regina Marteleto soube que essa seria a área que nortearia seus caminhos profissionais e acadêmicos. Professora do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Regina Marteleto está entre as pessoas que colaboraram para o crescimento da Ciência da Informação no Brasil.

Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, mestre em Ciência da Informação e da Comunicação pela École des hautes études en sciences sociales (França), e graduada em Letras (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, PUC Minas) e Biblioteconomia (Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG), Regina Marteleto já ocupou o cargo de presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ANCIB), entre 2003 e 2006.

A longa carreira da professora foi dedicada a vários temas da Ciência da Informação, como cultura e informação; conhecimento, informação e sociedade; informação e comunicação em saúde; mediações infocomunicacionais em redes sociais; e teoria social, epistemologia e interdisciplinaridade nos estudos da informação.

Em entrevista, a professora Regina Marteleto conta um pouco sobre a trajetória dela com a Ciência da Informação e com o PPGCI/Ibict/UFRJ.

Confira!

Ibict: Qual a sua história acadêmica? Como se deu a estruturação dos temas de pesquisa da senhora?

Regina Marteleto: Quando saí de um colégio de freiras, em Belo Horizonte, meu desejo inicial era estudar jornalismo. Queria estar a par dos fatos e produzir informações sobre o que se passava no nosso país no período da ditadura militar. Eram os anos de 1960, os mais sombrios desse regime que tanto mal fez ao país. Interessava-me também a Biblioteconomia, depois da visita ao Colégio de uma estudante na UFMG. E também me encantava a ideia de ter um emprego e, portanto, autonomia.

Tive sucesso nas provas do vestibular. Então frequentei os dois cursos paralelamente durante um semestre, até que optei pela Biblioteconomia por conta da oferta de um estágio remunerado na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, patrocinado pelo Instituto Nacional do Livro. Depois de terminar o curso de Biblioteconomia na UFMG, senti a necessidade e a curiosidade de ampliar mais a minha base de conhecimentos, principalmente em línguas e na linguagem. Gostava de escrever e descobrir novos lugares, além daquele Belo Horizonte que me cercava. Decidi cursar Letras Português/Francês na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e nasceu aí minha trajetória acadêmica e o interesse em estudar o objeto informação por uma abordagem socioantropológica, crítica e interpretativa.

Fui estagiária na biblioteca pública durante o período de duração do curso. Depois, enquanto cursava Letras na PUC e estudava francês, atuava como bibliotecária na Biblioteca Central do Sesc, uma espécie de biblioteca pública situada no centro de Belo Horizonte, de portas abertas para a comunidade do comércio e em geral. Nessas experiências como estudante e profissional, tive mestres e colegas que marcaram a minha trajetória, com os quais aprendi muito do que guardo até hoje, na vida acadêmica e na vida pessoal.

Mais tarde, ingressei como profissional bibliotecária na UFMG, atuando na Divisão de Estudos e Projetos da Coordenação de Bibliotecas Universitárias. Nesse período, obtive uma bolsa do governo francês para realizar estágios em bibliotecas universitárias, o que me levou ainda a prolongar o período da bolsa para realizar um Diplôme d´Études Approfondies (DEA) em Sciences de l´Information et de la Communication na Ecole de Hautes Études en Sciences Sociales, curso criado por vários intelectuais e pesquisadores, dentre eles, Robert Escarpit, Roland Barthes e Jean Meyriat.

Ibict: Como foi que se deu sua entrada no PPGCI/Ibict/UFRJ?

Regina Marteleto: Em 1980, de volta da França e por força de situação familiar, precisei deixar a UFMG e me instalar no Rio de Janeiro. Quem mediou a minha entrada no PPGCI foi a Profa. Abigail Carvalho de Oliveira, vinda temporariamente da UFMG para o Ibict, onde assumiu por um tempo a divisão de ensino e pesquisa. Eram tempos de mudanças na instituição com a perspectiva de transferência do Ibict para Brasília. Eu era ainda bem jovem e iniciava um novo ciclo de vida e de trabalho, com múltiplos desafios pela frente. Atuei desde o início na pós-graduação, lecionando disciplinas no mestrado e coordenando a reestruturação do Curso de Documentação Científica (CDC), junto com colegas.

A partir do convênio realizado entre o Ibict e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, via Escola de Comunicação (ECO), abre-se um ciclo inspirador de novas ideias. Assim, em 1994, é criado o doutorado em Ciência da Informação do PPGCI/Ibict/UFRJ. Antes disso, eu e algumas colegas cursamos o doutorado em Comunicação e Cultura na ECO/UFRJ, em linha de pesquisa criada para ser o embrião do futuro doutorado em Ciência da Informação. Nesse período criei, juntamente com os alunos e alguns colegas, a revista Informare – Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, destinada a divulgar a produção de docentes e discentes do Programa.

Desse período, eu não poderia deixar de mencionar a presença de um colega, Victor Valla, que esteve um ano no PPGCI. Com ele, percorria e conhecia os novos espaços de circulação de informações e produção de saberes em uma via libertadora, contestatória e democrática: as organizações não-governamentais de assessoria e apoio aos movimentos sociais, como a FASE, o CEDI, o IBASE, dentre outras. Depois de ter estudado no doutorado da ECO/UFRJ, o espaço escolar como espaço informacional reprodutor e, ao mesmo tempo, impulsionador de mudanças sociais, chegou o momento de compreender o papel dessas novas organizações na democratização da informação e na dialogia entre diferentes formas de saberes para a transformação social. É nessa fase que passei a interagir e compartilhar projetos de pesquisa e de ação social com colegas da área da saúde, da Fiocruz, à qual se vinculou o colega Victor Valla.

Ibict: Qual a importância do PPGCI/Ibict/UFRJ para a Ciência da Informação e para a ciência brasileira?

Regina Marteleto: O PPGCI é pioneiro no Brasil e na América Latina, no campo dos estudos informacionais, desde os anos de 1970, quando a pós-graduação começou a se consolidar no país, nas mais variadas áreas do conhecimento. A postura visionária e inovadora de suas precursoras Célia Zaher, Hagar Espanha e outros profissionais abriu diversas frentes para a criação e a consolidação da C.I., formando mestres e mestras que atuaram na criação de outros cursos de pós-graduação no país.

Desde então, sou testemunha desse papel central do Ibict no cenário latino-americano dos estudos da informação. Trata-se de uma instituição que, apesar de atravessar diversos e constantes percalços político-institucionais, manteve a firmeza de sua missão de coordenadora e incrementadora de práticas e políticas informacionais para a ciência e a tecnologia brasileiras. Daí a sua importância também para a ciência brasileira, por meio tanto da pesquisa e da formação pós-graduada, quanto no desenvolvimento de serviços e produtos informacionais.

Ibict: A senhora enfrentou algum preconceito ao longo da carreira acadêmica por ser uma mulher cientista?

Regina Marteleto: Apesar de já ter percorrido um longo caminho no meio acadêmico, posso afirmar que nunca enfrentei preconceito pela minha condição de mulher pesquisadora. Por outro lado, tenho consciência de que me situo em uma área ou domínio com predominância feminina, que não desfruta do mesmo prestígio científico de outras áreas, por exemplo, das ciências exatas, engenharias ou tecnologias.

É fato, em nosso país, que as áreas do conhecimento e de atuação profissional com predominância feminina – enfermagem, psicologia, serviço social, pedagogia – sofrem o estigma do cuidado, geralmente atribuído à mulher, o que as coloca em patamar diferenciado no que tange aos financiamentos e apoios para estímulo à pesquisa, em um país cuja estrutura patriarcal demarcou a relevância do direito, medicina e engenharia e a formação masculina. Entretanto, e graças às lutas e ao protagonismo das mulheres desde algumas décadas, essa realidade vem sendo alterada e as mulheres já se fazem mais presentes na escola e nas universidades, obtendo melhor desempenho do que os homens, embora persistam as diferenças de oportunidades no mercado de trabalho, favoráveis ao masculino.

Ibict: Quais os futuros possíveis para o PPGCI e para a Ciência da Informação?

Regina Marteleto: Para o bem, mais do que para o mal, na minha percepção, o mundo digital que veio se conformando desde as últimas décadas consolida-se de forma mais intensa no momento atual, haja vista, por exemplo, as novas formas de interação, trabalho, educação que se configuram neste momento da pandemia provocada pelo novo coronavírus, o Sars-CoV-2. Entretanto, o ritmo cada vez mais veloz e ampliado das comunicações, paralelo a uma abundância na produção e no acesso às informações, não tem favorecido a conformação de sociedades mais justas e democráticas. Questões de ordem econômica, geopolítica e de poder parecem orientar os fluxos, a conservação e o uso das informações. Diversas formas de mediações são necessárias a fim de promover a validação, a preservação e o acesso às informações e aos saberes.

Uma das formas mais relevantes neste cenário são as mediações culturais – o reconhecimento da pluralidade de povos, saberes e narrativas que coexistem nos planos mundial, nacional, regional. Em segundo lugar, e não menos importante, destacam-se as mediações documentárias que se inscrevem nas práticas e saberes dos profissionais da informação. Essas mediações são ética e politicamente relevantes no cenário informacional de ontem e de hoje. O PPGCI/Ibict/UFRJ, assim como outrora e desde sempre, tem e terá papel central nesse novo enquadramento informacional.

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Esta entrevista integra uma série dos meses de setembro e outubro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Publicado em Notícias

Eram meados dos anos 1970 quando Cecília Leite, então estudante de Letras pela Universidade de Brasília, encantou-se com o papel transformador proporcionado pelas bibliotecas. Hoje, atual diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Cecília Leite celebra os muitos anos de vida dedicados para a Ciência da Informação no país.

Mestre (1996) e doutora (2003) em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, Cecília Leite destaca-se pela atuação em ações de inclusão social. Em 2002, na pesquisa de doutorado, Cecília Leite desenvolveu uma metodologia reconhecida internacionalmente de inclusão digital para a inclusão social (Escola Digital Integrada - EDI), colaborando para a criação de normas na área, como a Lei 3.275/2003, que assegura a inclusão digital aos alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal.

Cecília Leite é pesquisadora de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cedida ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para atuar, na época, como Coordenadora Geral de Pesquisa e Desenvolvimento Novos Produtos (CGPD) do Ibict, e, posteriormente, como diretora. Atualmente, Cecilia Leite encontra-se em sua segunda gestão como diretora do Ibict.

Em entrevista, Cecília Leite conta sobre a sua história com a Ciência da Informação e explica por que entre as suas principais atuações está a valorização do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), realizado a partir da parceria entre o Ibict e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Confira!

Qual é a sua história com a Ciência da Informação? Como é que sua atuação como profissional e pesquisadora foi se entrelaçando a partir da sua graduação e dos seus estudos posteriores?

Cecília Leite: Realizei minha graduação em Letras. Minha origem inicial é da área de Cultura, até mesmo por causa da minha história pessoal. Eu vim para Brasília porque meu pai veio atuar na organização do Departamento de Música da Universidade de Brasília. No curso de Letras, eu comecei a me envolver então nas temáticas culturais, não apenas em música, dança e outros, mas também com as bibliotecas. Percebi que as bibliotecas eram espaços democráticos, inclusivos e cívicos e aquilo me encantou.

Nas bibliotecas, era possível colaborar efetivamente para a inserção das pessoas no mundo da leitura e, com isso, contribuir para que elas tivessem acesso à cultura e à educação. Com as experiências acadêmicas da minha juventude, fui percebendo o quanto as bibliotecas eram promotoras culturais, do desenvolvimento nacional, de ensino e aprendizagem e fundamentais para toda a estrutura educacional. Foi então que decidi entrar para a Ciência da Informação, exatamente por causa dessa experiência com bibliotecas. Passei a me interessar pela linha de estudo que a biblioteca proporciona com seu espaço inovador e democrático.

Qual a sua história com o Ibict?

Cecília Leite: No início da minha vida profissional, trabalhei por um tempo como Coordenadora de Promoção Cultural do Centro de Informação e Documentação da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), onde atuei na reativação do cinema, que estava parado há muito tempo, por causa da censura, e ao mesmo tempo também em ações com o livro e a leitura. A partir daí, tive a certeza de que era nisso que eu queria trabalhar.

Decidi então fazer o mestrado depois o doutorado em Ciência da Informação. Nesse transcurso, passei em um concurso para a então Embrapa Informação Tecnológica, que atuava com atividades como editoração, produção gráfica e trabalhos relacionados à Ciência da Informação. Foi um período muito importante na minha vida profissional. Algum tempo depois, fui cedida e convidada a trabalhar no Ibict. O professor Emir Suaiden, que foi meu orientador de tese, me chamou para criar um programa de inclusão social. Nesse transcurso, atuei como coordenadora geral em duas gestões do professor Emir Suaiden. Posteriormente, concorri à direção do Ibict e já estou na minha segunda gestão do Instituto.

Ibict: Em entrevista para o site do Ibict, a professora Lena Vânia mencionou o quanto ela sente o PPGCI valorizado tanto na gestão do professor Emir Suaiden quanto na sua gestão.  Qual é a importância do PPGCI para a Ciência da Informação e a importância do programa para o Ibict enquanto Instituto de Pesquisa?

Cecília Leite: O PPGCI/Ibict/UFRJ é fundamental porque promove a formação profissional e acadêmica especificamente em Ciência da Informação. Os institutos de pesquisa têm a função de atuar na formação de pesquisadores e profissionais altamente qualificados. Nesse sentido, o PPGCI/Ibict/UFRJ é um programa de excelência na formação de mestres e doutores. Além disso, o programa oferece ações para toda a comunidade, como os cursos que têm sido oferecidos gratuitamente pelas Escolas de Outono, Inverno, Primavera e Verão. Esses cursos, por exemplo, já certificaram mais de 5 mil pessoas, que estão, por sua vez, disseminando conhecimento.

São cursos que oferecem uma complementação educacional não apenas para quem é da área, mas também abre novos horizontes para quem não é do setor, além daqueles que gostariam de entender melhor a Ciência da Informação. A importância do programa é enorme para o país – há que se ressaltar que foi o primeiro programa de pós-graduação em Ciência da Informação na América Latina e Caribe. Nos 50 anos do programa, o Ibict todo reconhece a sua importância e os esforços na tarefa de qualificar mão de obra especializada, promovendo conhecimento para toda a comunidade.

Ibict: Qual a importância das mulheres para a Ciência da Informação?

Cecília Leite: As mulheres marcaram a história da Ciência da Informação. Vale destacar que o Ibict nasceu como Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), a partir dos esforços de uma mulher, que foi Lydia de Queiroz Sambaquy (1913-2006). A participação e a contribuição das mulheres em várias áreas permeiam toda a história de 66 anos do Ibict. É fundamental destacar o empoderamento das mulheres promovido a partir da atuação das mulheres em toda a história. Hoje, a mulher conquistou seu espaço na ciência e é um movimento cada vez mais crescente, de modo que homens e mulheres possam atuar conjuntamente em prol da ciência.  

A senhora já sofreu ou conseguiu perceber algum tipo de exclusão por ser uma mulher na ciência?

Cecília Leite: Eu vivenciei o preconceito de forma mais velada, mas ele existe e as mudanças culturais são complexas. Para a mulher conquistar seu espaço foram necessárias muitas lutas e mudanças ao longo da história. Quando eu assumi a direção do Ibict, dentre todos os institutos de pesquisa, somente dois tinham mulheres na coordenação: o ibict e o MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins). Desde então, o número de mulheres na liderança dos Institutos aumentou, o que comprova as mudanças pelas quais o mundo e o Brasil têm passado, a partir dos espaços conquistados pelas mulheres em todas as esferas.

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Esta entrevista integra uma série dos meses de setembro e outubro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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“Vale a pena ser um cientista da Informação”. A frase – tão vigente em tempos da sociedade do conhecimento – é de Rosali Fernandez de Souza, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, realizado a partir da parceria entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Rosali Fernandez de Souza possui graduação em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Santa Úrsula (1968), especialização em Documentação Científica (1969) e mestrado em Ciência da Informação (1973) pelo PPGCI/Ibict/UFRJ, além de doutorado pela Polytechnic of North London, conferido pelo Council for National Academic Awards (1984).

Em entrevista exclusiva ao site do Ibict, a professora conta sobre a história dela com a Ciência da Informação e com o PPGCI/Ibict/UFRJ, detalha a paixão pela Biblioteconomia e revela os autores que mais inspiraram suas pesquisas.

Confira!

Ibict: Qual a sua história acadêmica? A Ciência da Informação era uma paixão desde criança/adolescente?

Rosali Fernandez de Souza: A minha história como profissional tem os seus primórdios com a graduação em Biblioteconomia e Documentação na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, quando comecei a estagiar em uma biblioteca pública regional de bairro. Me encantei em atuar como quase profissional no trabalho de catalogação e classificação de livros e no atendimento ao público.

Especializei minha formação com o Curso de Documentação Científica (CDC) do Ibict, que abriu bastante meus horizontes para serviços e sistemas de informação para além da biblioteca, quando passei a me interessar ainda mais pelas atividades de classificação e recuperação da informação. Em seguida, cursei o Mestrado em Ciência da Informação do PPGCI/Ibict/UFRJ e, posteriormente, ingressei no doutorado na Polytechnic of North London. 

Foi durante o CDC que comecei a atuar como bibliotecária no Centro Latino Americano de Física (CLAF), uma organização intergovernamental de cooperação regional para a Física na América Latina. A complexa temática da biblioteca do CLAF voltada para política científica e a diversificada natureza dos documentos que compunham o acervo me forçaram a refletir sobre a organização e a representação do conhecimento sobre ciência, uma vertente nova para mim. Essa situação me motivou a aprofundar estudos da informação, principalmente em classificação, tema que sempre permeou direta ou indiretamente as minhas indagações teóricas e práticas, tornando-se tema recorrente em meus projetos de pesquisa.

Ibict: Qual a relação da senhora com o PPGCI/Ibict/UFRJ tanto como aluna quanto como professora?

Rosali Fernandez de Souza: Como expliquei na pergunta anterior, minha entrada no PPGCI se deu primeiramente como aluna e, posteriormente, como professora e pesquisadora.  Além de aluna do Curso de Documentação Científica, cursei o Mestrado em Ciência da Informação do IBICT no período 1971-1973, a segunda turma do PPGCI. A seleção de candidatos para primeira turma foi restrita a professores que atuavam em cursos de graduação em biblioteconomia, que não era o meu caso.  

A minha turma teve o privilégio de vivenciar acordos do Ibict com o British Council e com a Ford Foundation, que proporcionaram a vinda de renomados professores e pesquisadores da Inglaterra e dos Estados Unidos da América. Minha turma teve o privilégio de ter como professores LaVahn Overmeyer, em Catalogação Avançada, Jessica Perry, em Técnicas de Indexação e Resumos, Derek Langridge, em Sistemas de Classificação, John Joseph Eyre, em Organização de Serviços de Informação, e Tefko Saracevic, em Processamento de Dados na Documentação. Essa grade curricular central da Ciência da Informação foi complementada com as disciplinas Teoria dos Conjuntos e Programação, ministradas por professores da área de computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no campus da Ilha do Fundão.

Eu também me sentia privilegiada de estar nos meus ambientes familiar e cultural, tendo aulas com todos esses professores. As dificuldades iniciais em acompanhar as aulas e em redigir os term papers em língua inglesa foram aos poucos se dissipando com a compreensão dos professores estrangeiros e pelo espírito de colaboração que reinava entre os colegas da turma. Devido às restrições em tempo da permanência de alguns professores estrangeiros, o horário de aulas era integral e, por vezes, também aos sábados.

A cada disciplina cursada, a Ciência da Informação se delineava como uma área de conhecimento fascinante e promissora para uma jovem, recém-formada em Biblioteconomia e Documentação, no início da atuação profissional. A minha dissertação de mestrado com o título “Análises bibliométricas da produção científica dos grupos de pesquisa sobre Física do Estado Sólido na América Latina”, teve como membros da banca examinadora o professor John Joseph Eyre da Polytechnic of North London (PNL), o físico Dr. Alfredo Marques de Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), e orientador o professor Tefko Saracevic, da Case Western Reserve University. 

Ao terminar o mestrado, fui agraciada com bolsa de estudos do British Council para estágio pós-mestrado na Inglaterra, tendo como tutor acadêmico o professor Derek Langridge. Das discussões sobre classificação com Mr. Langridge, resultou o meu interesse em traduzir o livro de sua autoria “Approach to classification for students of librarianship”, no qual a nossa turma de mestrado foi mencionada na dedicatória.

As sólidas bases de conhecimento teórico e prático adquiridos no mestrado do Ibict foram a motivação para prosseguir nos estudos de doutoramento na Inglaterra, na Polytechnic of North London, com bolsa de estudos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), quando ainda não havia curso de doutorado em Ciência da Informação no Brasil. Ao terminar o doutorado, ingressei como professora no PPGCI ministrando disciplinas voltadas para a organização do conhecimento e representação da informação.   Exerci cargo de coordenadora e orientei trabalhos de pesquisa de mestrado e doutorado de alunos, com os quais aprendi muito e me reciclam no ensino e na pesquisa a cada ano.  

Ibict: Quais os principais autores que inspiraram as suas pesquisas?

Rosali Fernandez de Souza: Minhas primeiras referências em classificação no Brasil foram Maria Antonieta Requião Piedade e Alice Príncipe Barbosa. De fora do país destaco Derek Langridge, discípulo de Ranganathan, e o próprio Ranganathan, que me motivaram a desbravar a teoria da classificação, que, juntamente com Jack Mills, A. J. Foskett e B. C. Vickery, me fizeram e ainda me fazem refletir sobre a classificação como atividade fundamental de pensamento e sobre aplicações no âmbito das Ciências, das Ciências Sociais e das Humanidades.

Entre os teóricos de organização do conhecimento, além dos que mencionei, é impossível não nomear I. Dahlberg e B. Hjorland como autores impactantes para as minhas reflexões de pesquisa. Destaco também Edgar Morin, filósofo da educação, que, com o seu conceito de ‘ensino educativo’ e a exploração do pensamento complexo, tem permeado minhas temáticas de pesquisa. Aspectos filosóficos e epistemológicos da organização do conhecimento, assim como a História da Ciência e a Gestão e Avaliação em Ciência, têm contextualizado as temáticas dos meus projetos de pesquisa ao longo dos anos.

Ibict: Qual a importância do PPGCI/Ibict/UFRJ para a Ciência da Informação e para a ciência brasileira?

Rosali Fernandez de Souza: O PPGCI/Ibict/UFRJ completa 50 anos em 2020. Foi pioneiro como curso de mestrado em Ciência da Informação do Brasil, da América Latina e do Caribe. Nos primeiros anos, contou com a participação de renomados professores e pesquisadores que atuavam em instituições de ensino na área da Inglaterra e dos Estados Unidos, o que trouxe o caráter de vanguarda na formação de mestres na área no pais. Conta hoje com um corpo docente permanente e colaboradores de reconhecida competência no ensino e na pesquisa de pós-graduação no país e no exterior. 

O corpo discente, ao longo dos anos, tem se caracterizado por graduados de diferentes áreas das Ciências Exatas e Tecnológicas, das Ciências da Saúde, das Ciências Humanas e Sociais e das Artes, o que torna particularmente profícua a interação entre o alunato e o corpo docente nas discussões em sala de aula, seminários e outras atividades acadêmicas. O reconhecimento pelos pares da produção científica dos docentes e alunos, na premiação em eventos e nos aceites para publicação em revistas científicas da área no país e no exterior, são parâmetros que indicam a importância do PPGCI para a Ciência da Informação. Por outro lado, a atuação de mestres e doutores egressos de uma área em que a informação e o conhecimento são insumo básico em instituições de ensino e pesquisa e em empresas do país constitui potencial importante de apoio ao desenvolvimento da ciência brasileira.

Ibict: Quais os futuros possíveis para o PPGCI/Ibict/UFRJ e para a Ciência da Informação?

Rosali Fernandez de Souza: Na minha visão, o PPGCI tem futuro promissor, assim como a Ciência da Informação. É cada vez mais evidente e reconhecido o papel relevante que a informação desempenha em todas as áreas do universo do conhecimento, principalmente nas Ciências Sociais Aplicadas. Nesse sentido, o futuro do PPGCI e da Ciência da Informação são garantidos.

É importante mencionar o número elevado de interessados que sempre ocorreu ao longo dos 50 anos de história do PPGCI. Por exemplo, em 2020, ano da pandemia de COVID-19, para a seleção do PPGCI foram homologadas para o curso de mestrado 95 inscrições, que concorrem a 27 vagas. Para o curso de doutorado, foram homologadas 70 inscrições, que concorrem a 18 vagas.   

Enquanto houver demanda, há futuro para o PPGCI e para a Ciência da Informação. 

Ibict: Se a senhora pudesse dar um conselho para os futuros estudantes da Ciência da Informação, qual seria?

Rosali Fernandez de Souza: Invistam na Ciência da Informação. Vale a pena ser um Cientista da Informação!


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Esta entrevista integra uma série do mês de setembro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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A inquietação surgida a partir da percepção das desvantagens enfrentadas pelas mulheres para ingressarem nas carreiras científicas fez com que a professora Gilda Olinto de Oliveira buscasse ampliar as discussões em relação às oportunidades para as mulheres na ciência. Entre as ações que contam com a atuação de Gilda Olinto está o projeto “Diferenças de gênero na opção por ciência e tecnologia: permanências e mudanças na escola básica”, um estudo com foco nos alunos do ensino médio do colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.

Gilda Olinto é membro do corpo docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, realizado a partir da parceria entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A professora é graduada em Sociologia e Política pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tem mestrado em Ciência Política pela Universidade de Michigan e doutorado em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em entrevista para o site do Ibict, Gilda Olinto conta sobre a atuação nas pesquisas envolvendo gênero e ciência, detalha a história dela no PPGCI/Ibict/UFRJ e ressalta o papel das bibliotecas públicas.

Confira!

Ibict: Poderia contar um pouco sobre seus temas de pesquisa?

Gilda Olinto: Em relação aos meus temas de pesquisa, começo pelo atual – Mulher, Ciência e Tecnologia – e apresento brevemente um projeto em andamento com o título “Diferenças de gênero na opção por ciência e tecnologia: permanências e mudanças na escola básica”, que recebe financiamento da FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Trata-se de um estudo com foco nos alunos do ensino médio do Colégio Pedro II, que tem convênio com o Ibict para a realização de pesquisas, sendo que este projeto específico desenvolve-se em parceria com Silzane Carneiro, que chefia o LAEDH, o Laboratório de Estudos em Direitos Humanos do colégio.

Como o título do projeto sugere, o interesse é conhecer por que ainda permanecem grandes diferenças de gênero na escolha de carreiras, especialmente o fato de as meninas rejeitarem as ciências exatas e tecnológicas. As indagações da pesquisa e estudos sobre o tema nos levaram a considerar alguns dos possíveis condicionantes socioculturais dessas diferenças de gênero, como a presença de estereótipos. Entre as evidências empíricas visadas pelo projeto, destaco um survey que já foi aplicado a 285 alunos da unidade Centro, por sorte no final do ano de 2019, agora em fase de análise. No contexto deste projeto, também já foram organizadas atividades de divulgação científica.

Sobre a inclusão das mulheres na ciência, pode-se dizer que há duas grandes preocupações: a primeira é o seu ingresso mais efetivo nas diversas carreiras de Ciência e Tecnologia e a segunda são as dificuldades de progressão nas carreiras quando elas nelas ingressam, pois enfrentam preconceitos e discriminações que dificultam a sua ascensão profissional. Abordei essas questões em artigo publicado no periódico “Inclusão social”, do Ibict.

Em relação à progressão das mulheres na ciência, tenho realizado trabalhos em parceria com Jacqueline Leta, que liderou projetos e coletou dados da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) sobre os professores/pesquisadores dos programas de pós-graduação no Brasil. Esses trabalhos consideram as diferenças de gênero nas tarefas acadêmicas como fatores que poderiam explicar as diferenças de gênero na produtividade. Em eventos anuais da “International Society for Information Science”, apresentamos trabalhos sobre esses estudos, focalizando inicialmente o conjunto de professores/pesquisadores nesses programas, e, posteriormente, os de pesquisadores dos Institutos de Pesquisa Nacionais. As análises desses dados indicaram algumas diferenças de gênero em algumas áreas acadêmicas e, surpreendentemente, mostraram que a produção das mulheres supera a dos homens nos institutos de pesquisa do país.

O peso do gênero no acesso e uso das TICs tem também motivado alguns trabalhos meus, em parceria com alunos e com Sonoe Sugahara, professora da ENCE/IBGE. Utilizando dados das PNAD, esses trabalhos abordam as diferenças de gênero no acesso e uso das Tecnologias da Informação e Comunicação entre jovens e entre professores e profissionais da informação. Tenho levado esses trabalhos ao evento internacional European Conference of Information Literacy, que publica uma coletânea organizada pela Springer.  

A origem do meu interesse nos estudos de gênero está na minha tese de doutorado, que abordou aspectos semelhantes aos considerados atualmente, também tendo como campo de estudo o colégio Pedro II, há muitos anos. Mas esse retorno às origens é certamente um grande estímulo, tanto pela observação das “permanências” quanto das “mudanças” nesta grande instituição de ensino nacional.

Ibict: Como foi que se deu a entrada da senhora no PPGCI/Ibict/UFRJ? Qual a sua principal contribuição para o programa?

Gilda Olinto: Entrei para o Ibict para trabalhar como professora do PPGCI, assumindo a disciplina de Métodos de Pesquisa. Certamente, a minha formação nesta área, um aspecto destacado do meu curso de Ciência Política da Universidade de Michigan, contribuiu para meu ingresso no programa. Comecei lecionando metodologia de pesquisa no mestrado e no antigo curso de especialização, o CDC, e ainda ministro a disciplina na pós-graduação. Considero que minha preocupação com o rigor no processo da pesquisa, lecionando a disciplina de metodologia, é talvez o que melhor define a minha contribuição para o programa.

Ibict: Qual a importância do PPGCI/Ibict/UFRJ para a Ciência da Informação?

Gilda Olinto: O PPGCI/Ibict/UFRJ destaca-se como primeiro curso de Pós-graduação (lato e stricto sensu) em Ciência da Informação no país. Considero que o curso sempre teve e continua a ter muita influência na área, inclusive pela evolução do foco dos seus estudos, atualmente destacando-se em abordagens críticas de aspectos epistemológicos, políticos e sociais da informação e da ciência, com atenção ao diagnóstico e análise dos “grandes dados”.

Ibict: Como promover a inclusão das mulheres nas carreiras de ciência e tecnologia no Brasil? Quais medidas podem ser tomadas para superar essas diferenças?

Gilda Olinto: Certamente, as iniciativas da sociedade reivindicando mudanças por meio de políticas públicas são importantíssimas, como o “Parent in Science”, que tem conseguido ganhos, como mudanças em editais públicos que levam em consideração o estágio da maternidade.

Algumas das iniciativas públicas nesse sentido deveriam incluir: o incremento do financiamento de pesquisas sobre esse tema; projetos voltados para desconstrução dos estereótipos de gênero em escolas públicas, incluindo, especificamente, aqueles que buscam mudar a autoimagem das meninas em relação às ciências exatas; promoção de palestras de mulheres cientistas de destaque em escolas públicas; e projetos de inclusão de professoras nas ciências exatas. Iniciativas desse tipo são importantes, não apenas por questão de justiça.

Internacionalmente, como nos países da UE, esse tipo de política tem sido valorizada devido à importância que assumem as carreiras de C&T na sociedade do conhecimento. Abordar esse tema não é uma “questão de gênero”, trata-se de desperdício de talentos, afetando o futuro dos países.

Ibict: Em sua trajetória de pesquisa, entre vários temas, a senhora também tem estudado as bibliotecas públicas. Quais seriam o futuro e os desafios para as bibliotecas públicas no país?

Gilda Olinto: A biblioteca pública como tema de estudo decorreu do meu interesse pelos estudos sobre informação para a comunidade. Ministrei disciplinas sobre este assunto e desenvolvi um projeto de pesquisa sobre a importância da biblioteca pública na democratização do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação e no desenvolvimento comunitário. A mais gratificante experiência em tal contexto foi a orientação de teses de mestrado e doutorado sobre o tema, trabalhando com alunos que têm grande vivência dessas bibliotecas e a oportunidade de pôr em prática inovações no sentido da dinamização da relação biblioteca-comunidade. Por meio deles, sinto-me contribuindo para a biblioteca pública brasileira.

Os desafios para o futuro das bibliotecas públicas são muitos devido à pouca atenção dada a essas instituições, assim como a sua pouca visibilidade, tanto por parte do poder público, quanto por parte das suas comunidades. Entretanto, elas ainda são a instituição cultural mais presente em todos os municípios brasileiros e deveriam ter mais chances para desempenhar seu papel nas suas comunidades, que deveriam ter mais voz nas ações das suas bibliotecas.


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Esta entrevista integra uma série do mês de setembro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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O portal 50 anos do PPGCI, o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - desenvolvido em parceria entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dedica uma área especial às “Mulheres da Ciência da Informação”.

Na área "Mulheres da Ciência da Informação" do portal, o usuário é convidado a mergulhar na história da Ciência da Informação, que foi marcada pela atuação de mulheres pesquisadoras ao longo de tantos anos de história. “A proposta vem da potência da produção teórica e aplicada das mulheres na construção do campo informacional no Brasil, e do Brasil para o mundo. Não há dúvidas em nossa historiografia que é o perfil feminino a força central que moveu a história da Ciência da Informação”, explica o professor Gustavo Saldanha, coordenador do PPGCI/Ibict/UFRJ.

Gustavo Saldanha acrescenta que “é a partir do papel das mulheres, do seu pensamento e da sua impressionante dedicação à causa informacional no país que o campo adquire a configuração que hoje nós conhecemos e sobre a qual produzimos nossas pesquisas. Por isso, contar a história e a teoria da informação no Brasil e abordar o papel das políticas de informação e das práticas revolucionárias de organização da informação é apontar para a mudança trazida por mulheres como Celia Zaher, Janice Monte-Mór, Hagar Espanha Gomes e Lydia Sambaquy”.

Como explica o professor, na área "Mulheres da Ciência da Informação" do portal é possível encontrar por exemplo, a história de Lydia de Queiroz Sambaquy (1913-2006), considerada um ícone da Biblioteconomia brasileira. Lydia Sambaquy foi presidente do antigo Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), hoje Ibict, durante onze anos, além de vice-presidente eleita da Federação Internacional de Documentação entre 1959 e 1962.

No portal são detalhadas as histórias de cerca de 20 mulheres na Ciência da Informação na versão escrita, além de entrevistas em vídeo, como a realizada com a professora Célia Zaher, no escopo da pesquisa “Memórias Científicas: História Oral da C.I.”, disponível aqui.

A estrutura do Portal 50 anos do PPGCI/Ibict/UFRJ: Várias áreas compõem o portal. Na "Linha do Tempo", o visitante pode conhecer um amplo histórico a partir da relação do PPGCI com a Ciência da Informação. Outra área de destaque é o "Canal 50", que contém a história do PPGCI contada a partir de depoimentos apresentados em vídeos produzidos pelo programa, seus pesquisadores e grupos de pesquisa.

As produções divulgadas também podem ser acessadas pelo Youtube de especialistas em Ciência da Informação e de outras instituições do Brasil e do mundo. Já em “Teses e Dissertações”, o visitante do portal pode conhecer a produção acadêmica do PPGCI/Ibict/UFRJ.

Além disso, o portal agrega e dissemina informações sobre momentos e personalidades que marcaram a história do PPGCI/Ibict/UFRJ, bem como indica os caminhos que o Programa deverá seguir nos próximos anos. Vários pesquisadores atuaram na construção do portal, a partir da colaboração entre as equipes da Coordenação de Ensino e Pesquisa, Ciência e Tecnologia da Informação (COEPE) e da Coordenação Geral de Tecnologias de Informação e Informática (CGTI) do Ibict.

Para conhecer o portal, acesse: http://50.ppgci.ibict.br.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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Entre as professoras mais referenciadas e queridas quando o assunto é a história do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), está Lena Vania Ribeiro Pinheiro.

Lena Vania Pinheiro é doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ - 1997), mestre em Ciência da Informação pelo PPGCI/Ibict/UFRJ (1982), especialista em Redes de Bibliotecas pela Universidade de São Paulo (USP - 1972) e bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Pará (UFPA - 1966), onde também iniciou sua vida acadêmica como professora de História da Arte do Departamento de Letras e Artes.

Atualmente, já aposentada, continua exercendo atividades de pesquisa e ensino no Ibict, como professora permanente do PPGCI/Ibict/UFRJ, em uma história que já dura mais de 30 anos.

Ao longo da carreira, Lena Vania Pinheiro publicou livros e capítulos de livros e artigos de periódicos, bem como comunicações em congressos, no Brasil e no exterior, ultrapassando uma centena de orientações de mestres e doutores, sobretudo no Ibict, e em outras instituições e universidades, em Ciência da Informação e áreas interdisciplinares. De 2006 a 2013 foi coordenadora do portal de divulgação científica do Ibict, o Canal Ciência, quando participou de oficinas e palestras para alunos e professores.

Em entrevista para o site do Ibict, Lena Vania Pinheiro detalha toda essa história.

Confira!

Ibict: Qual a história da senhora com o PPGCI/Ibict/UFRJ? Como começou?

Lena Vania Pinheiro: Sou uma paraense formada em biblioteconomia. O fundador do curso de biblioteconomia do Pará foi o médico Clodoaldo Beckmann, um grande cirurgião que era encantado com a informação. Ele foi aluno do curso de especialização do então IBBD [Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação], o conhecido Curso de Documentação Científica [CDC], e contribuiu muito para a formação dos estudantes de biblioteconomia e eu estava entre eles. Clodoaldo Beckman levou para a nossa graduação conhecimentos de Documentação aprendidos no IBBD, grande documentalista que era. Depois, como eu tinha cursado História da Arte na faculdade e me identificado com a disciplina, fiz um concurso para professora de História da Arte no Pará e fui aprovada. Eu ministrava aula de História da Arte quando decidi fazer um mestrado na USP em História da Arte, no ano 1977. Levei meu projeto de pesquisa pronto, sobre Arquitetura religiosa no interior do Pará, mas, quando cheguei à USP para a seleção, não tinha nenhum professor orientador de História da Arte naquele ano. Decidi então tentar uma vaga na Antropologia da Arte e o meu projeto não foi aceito, muito naturalmente porque não era dessa área. Nesse período, estava aberta também a seleção para o mestrado em Ciência da informação e foi então que cursei o mestrado na área.

Ibict: Há quanto tempo a senhora está no PPGCI atuando como professora?

Lena Vania Pinheiro: Depois do mestrado, dei continuidade à minha história no Ibict, quando fui contratada para atuar como tecnologista, em Brasília.  Em 1985, solicitei a mudança para trabalhar no Ibict do Rio de Janeiro na área de ensino e pesquisa, quando eu voltei a atuar na docência do CDC. Era um curso de grande destaque na época, além do mestrado em Ciência da Informação porque, naquela fase, por falta de doutores na área, mestres podiam ministrar aulas e até orientar, se devidamente autorizados pela UFRJ. Realizei o doutorado algum tempo depois, em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e lá me titulei no ano 1997.

Ibict: Poderia contar sobre alguns dos desafios enfrentados pelo PPGCI ao longo desses 50 anos?

Lena Vania Pinheiro: O PPGCI enfrentou muitos desafios ao longo da sua trajetória. Entre estes, na época em que Brasília foi criada e muitos órgãos foram transferidos do Rio de Janeiro. O Ibict foi então dividido nas áreas de ensino e pesquisa, no Rio de Janeiro, e serviços e produtos, que foi transferida para Brasília.  Ao longo dos anos, essa situação tornou-se difícil. Posteriormente, foi criado um departamento de ensino e pesquisa que hoje é a Coordenação de Ensino e Pesquisa, Ciência e Tecnologia da Informação [COEPE]. Antes não existia o processo de Comitê de Busca com mandato de diretoria estabelecido e tivemos períodos de instabilidade com diretores interinos, momentos nos quais o PPGCI enfrentou algumas dificuldades para se manter. Sobretudo em função do famoso Relatório Tundisi, que recomendava que institutos de pesquisa não deveriam oferecer pós-graduação, somente as universidades. Hoje nós vivemos uma situação completamente diferente. Desde o mandato do professor Emir Suaiden, e agora sob a gestão da professora Cecília Leite, conseguimos nos consolidar e nos fortalecer.  

Ibict: Como é a experiência de ter sido orientanda e posteriormente orientadora no PPGCI? Qual a importância dessa troca para alunos e professores?

Lena Vania Pinheiro: É uma relação fundamental. Há muita troca de experiências entre orientandos e orientadores. Sempre digo que os alunos da graduação são uma fonte de juventude para gente. Na graduação, os alunos são muito criativos e livres para se manifestar, algo que é um aprendizado não apenas para o professor, mas também para nós como seres humanos.  Na pós-graduação, há um aprofundamento e essa troca mais profunda aumenta os nossos conhecimentos, sem deixar a criatividade de lado, é claro. O aluno vem sempre com muitas ideias. 

Com muitos alunos, nós professores estabelecemos amizades para o resto das nossas vidas. É interessante porque, muitas vezes, nós temos orientandos de várias idades, inclusive das nossas idades.  Outro aspecto positivo acontece quando nós vemos o estabelecimento de amizades e parcerias acadêmicas entre os nossos alunos. Eu, por exemplo, sou amiga da minha ex-orientadora [Gilda Braga] há quase 40 anos. É muito interessante poder unir o aspecto acadêmico e científico ao afetivo. É fundamental que exista afeto e amizade na caminhada entre orientador e orientando. Fazer pesquisa é uma trajetória árdua e difícil, daí ser importante que nessa caminhada exista afeto, até para superar os momentos mais tensos.

Ibict: Ao longo da carreira, a senhora enfrentou desafios por ser uma mulher cientista e docente?

Lena Vania Pinheiro: Nunca percebi problemas na minha trajetória como docente e pesquisadora por ser mulher. O que eu percebo é uma dificuldade entre áreas porque a Ciência da informação é uma área muito jovem. Cientificamente falando e no Brasil, é uma ciência com 50 anos em média. Não é possível comparar a história da Ciência da Informação, por exemplo, com a física ou a medicina. Então eu percebi algumas vezes um olhar diferente para as áreas que estão em vias de construção e consolidação. Esses desafios ocorreram muito nas buscas por financiamento entre as pesquisas em Ciência da Informação e outras áreas.

Ibict: Qual a importância das mulheres para a história da Ciência da Informação no Brasil?

Lena Vania Pinheiro: Eu diria que é fundamental, inclusive porque a Ciência da Informação no Brasil foi uma ciência fundada por mulheres. Na própria história do Ibict, há predominância de diretoras mulheres, desde a Lydia de Queiroz Sambaquy, Celia Zaher, Hagar Espanha Gomes, passando por Yone Chastinet, até chegar à atual diretora, Cecília Leite.  Hoje em dia, eu diria que a Ciência da Informação conta com pesquisadores homens e mulheres talvez porque haja interdisciplinaridade muito forte na nossa área, com a presença de professores de diferentes formações. Hoje, essas forças estão mais equilibradas, mas ainda assim as mulheres foram e continuam sendo fundamentais para o crescimento e o fortalecimento da Ciência da Informação.

Ibict: Em tempos de Internet e fake news, qual o futuro que a senhora vê para a Ciência da Informação?

Lena Vania Pinheiro: A Ciência da Informação tem muita importância no presente e terá no futuro também. A base de tudo é informação.  Quanto maior for o número de informações circulando, mais será necessário existir organicidade dos conhecimentos. É fato que o mundo mudou muito, então é preciso se preparar para lidar com essa nova realidade. As fake news, por exemplo, são informações que precisamos gerenciar. Quando a Ciência da Informação surgiu nos Estados Unidos, veio como fruto de todos os envolvidos no desenvolvimento de pesquisas no âmbito da Segunda Guerra Mundial. Os Estados Unidos sempre tiveram a percepção do quanto a informação é estratégica e custou muito tempo para o Brasil perceber isso. Não é à toa que Estados Unidos financiam programas e ações nessa área, porque sabem que aquela informação é oriunda de pesquisa e traz muito conhecimento novo. Informação é poder, este é um lugar comum, mas verdadeiro desde sempre, e isso tem ocorrido cada vez mais. 

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Esta entrevista integra uma série do mês de setembro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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