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Quarta, 07 Outubro 2020 11:10

Entrevista com Cecília Leite: do encanto pelas bibliotecas até a direção do Ibict

Arte: Victor Silva Arte: Victor Silva

Eram meados dos anos 1970 quando Cecília Leite, então estudante de Letras pela Universidade de Brasília, encantou-se com o papel transformador proporcionado pelas bibliotecas. Hoje, atual diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Cecília Leite celebra os muitos anos de vida dedicados para a Ciência da Informação no país.

Mestre (1996) e doutora (2003) em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, Cecília Leite destaca-se pela atuação em ações de inclusão social. Em 2002, na pesquisa de doutorado, Cecília Leite desenvolveu uma metodologia reconhecida internacionalmente de inclusão digital para a inclusão social (Escola Digital Integrada - EDI), colaborando para a criação de normas na área, como a Lei 3.275/2003, que assegura a inclusão digital aos alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal.

Cecília Leite é pesquisadora de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cedida ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para atuar, na época, como Coordenadora Geral de Pesquisa e Desenvolvimento Novos Produtos (CGPD) do Ibict, e, posteriormente, como diretora. Atualmente, Cecilia Leite encontra-se em sua segunda gestão como diretora do Ibict.

Em entrevista, Cecília Leite conta sobre a sua história com a Ciência da Informação e explica por que entre as suas principais atuações está a valorização do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), realizado a partir da parceria entre o Ibict e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Confira!

Qual é a sua história com a Ciência da Informação? Como é que sua atuação como profissional e pesquisadora foi se entrelaçando a partir da sua graduação e dos seus estudos posteriores?

Cecília Leite: Realizei minha graduação em Letras. Minha origem inicial é da área de Cultura, até mesmo por causa da minha história pessoal. Eu vim para Brasília porque meu pai veio atuar na organização do Departamento de Música da Universidade de Brasília. No curso de Letras, eu comecei a me envolver então nas temáticas culturais, não apenas em música, dança e outros, mas também com as bibliotecas. Percebi que as bibliotecas eram espaços democráticos, inclusivos e cívicos e aquilo me encantou.

Nas bibliotecas, era possível colaborar efetivamente para a inserção das pessoas no mundo da leitura e, com isso, contribuir para que elas tivessem acesso à cultura e à educação. Com as experiências acadêmicas da minha juventude, fui percebendo o quanto as bibliotecas eram promotoras culturais, do desenvolvimento nacional, de ensino e aprendizagem e fundamentais para toda a estrutura educacional. Foi então que decidi entrar para a Ciência da Informação, exatamente por causa dessa experiência com bibliotecas. Passei a me interessar pela linha de estudo que a biblioteca proporciona com seu espaço inovador e democrático.

Qual a sua história com o Ibict?

Cecília Leite: No início da minha vida profissional, trabalhei por um tempo como Coordenadora de Promoção Cultural do Centro de Informação e Documentação da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), onde atuei na reativação do cinema, que estava parado há muito tempo, por causa da censura, e ao mesmo tempo também em ações com o livro e a leitura. A partir daí, tive a certeza de que era nisso que eu queria trabalhar.

Decidi então fazer o mestrado depois o doutorado em Ciência da Informação. Nesse transcurso, passei em um concurso para a então Embrapa Informação Tecnológica, que atuava com atividades como editoração, produção gráfica e trabalhos relacionados à Ciência da Informação. Foi um período muito importante na minha vida profissional. Algum tempo depois, fui cedida e convidada a trabalhar no Ibict. O professor Emir Suaiden, que foi meu orientador de tese, me chamou para criar um programa de inclusão social. Nesse transcurso, atuei como coordenadora geral em duas gestões do professor Emir Suaiden. Posteriormente, concorri à direção do Ibict e já estou na minha segunda gestão do Instituto.

Ibict: Em entrevista para o site do Ibict, a professora Lena Vânia mencionou o quanto ela sente o PPGCI valorizado tanto na gestão do professor Emir Suaiden quanto na sua gestão.  Qual é a importância do PPGCI para a Ciência da Informação e a importância do programa para o Ibict enquanto Instituto de Pesquisa?

Cecília Leite: O PPGCI/Ibict/UFRJ é fundamental porque promove a formação profissional e acadêmica especificamente em Ciência da Informação. Os institutos de pesquisa têm a função de atuar na formação de pesquisadores e profissionais altamente qualificados. Nesse sentido, o PPGCI/Ibict/UFRJ é um programa de excelência na formação de mestres e doutores. Além disso, o programa oferece ações para toda a comunidade, como os cursos que têm sido oferecidos gratuitamente pelas Escolas de Outono, Inverno, Primavera e Verão. Esses cursos, por exemplo, já certificaram mais de 5 mil pessoas, que estão, por sua vez, disseminando conhecimento.

São cursos que oferecem uma complementação educacional não apenas para quem é da área, mas também abre novos horizontes para quem não é do setor, além daqueles que gostariam de entender melhor a Ciência da Informação. A importância do programa é enorme para o país – há que se ressaltar que foi o primeiro programa de pós-graduação em Ciência da Informação na América Latina e Caribe. Nos 50 anos do programa, o Ibict todo reconhece a sua importância e os esforços na tarefa de qualificar mão de obra especializada, promovendo conhecimento para toda a comunidade.

Ibict: Qual a importância das mulheres para a Ciência da Informação?

Cecília Leite: As mulheres marcaram a história da Ciência da Informação. Vale destacar que o Ibict nasceu como Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), a partir dos esforços de uma mulher, que foi Lydia de Queiroz Sambaquy (1913-2006). A participação e a contribuição das mulheres em várias áreas permeiam toda a história de 66 anos do Ibict. É fundamental destacar o empoderamento das mulheres promovido a partir da atuação das mulheres em toda a história. Hoje, a mulher conquistou seu espaço na ciência e é um movimento cada vez mais crescente, de modo que homens e mulheres possam atuar conjuntamente em prol da ciência.  

A senhora já sofreu ou conseguiu perceber algum tipo de exclusão por ser uma mulher na ciência?

Cecília Leite: Eu vivenciei o preconceito de forma mais velada, mas ele existe e as mudanças culturais são complexas. Para a mulher conquistar seu espaço foram necessárias muitas lutas e mudanças ao longo da história. Quando eu assumi a direção do Ibict, dentre todos os institutos de pesquisa, somente dois tinham mulheres na coordenação: o ibict e o MAST (Museu de Astronomia e Ciências Afins). Desde então, o número de mulheres na liderança dos Institutos aumentou, o que comprova as mudanças pelas quais o mundo e o Brasil têm passado, a partir dos espaços conquistados pelas mulheres em todas as esferas.

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Esta entrevista integra uma série dos meses de setembro e outubro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Última modificação em Quarta, 07 Outubro 2020 11:38
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