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A astrônoma Leda Cardoso Sampson Pinto cresceu sonhando em ser cientista.Quando menina, gostava de observar as estrelas no céu. Ela cursou a graduação em Astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fez mestrado pelo Observatório Nacional (RJ) e se formou como Ph.D pela Universidade de Cambridge (Reino Unido). Leda havia se tornado uma especialista em galáxias.

Ao voltar para o Brasil, Leda encontrou na política pública um caminho para promover a ciência. Tornou-se servidora do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), onde participou de importantes projetos de divulgação científica. Em 2021, assumiu o cargo de Chefe da Divisão de Divulgação e Popularização da Ciência e Tecnologia do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), unidade de pesquisa do MCTI. No Ibict, Leda está à frente do Canal Ciência, que promove serviços de popularização da ciência para o público em geral, especialmente a estudantes brasileiros em diversos níveis.

Confira a entrevista e saiba mais sobre a nova Chefe da Divisão de Divulgação e Popularização da Ciência e Tecnologia do Ibict.

Ibict: Poderia comentar um pouco sobre sua trajetória profissional?

Leda Pinto. Meu tema de estudo sempre foi galáxias com altas taxas de formação de estrelas, incluindo colisões de galáxias no Ph.D. Terminei meu Ph.D. em 2007, mas àquela altura, decidi que não queria mais seguir vida acadêmica. Voltei ao Brasil em busca de um outro rumo profissional. Em 2008, fiz concurso para o MCT. Em 2010, consegui mudar minha lotação para o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, área em que permaneci durante nove anos.

Durante esse período, aprendi muito e me especializei no tema, tendo atuado também como Diretora Substituta. Trabalhei com análise e acompanhamento de projetos, apoio à formulação e gestão de políticas públicas, editais e chamadas públicas, interlocução com diversos atores da área, inclusive parceiros internacionais, entre diversas outras atividades. Em 2016, fui nomeada para o cargo de Coordenadora de Projetos e Espaços de Divulgação Científica e passei a atuar como Coordenadora-Geral de Popularização e Divulgação da Ciência Substituta/Interina, até 2018.Foram muitas realizações e feitos inéditos, entre eles a formulação do Plano de Ação em CT&I para Popularização e Divulgação da Ciência e Tecnologia. Em 2019, em busca de novos desafios e oportunidades, passei a atuar como assessora no gabinete da Secretaria de Políticas para Formação e Ações Estratégicas e, em seguida, fui assessora na Coordenação-Geral de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, até dezembro de 2020.

Ibict: Você se formou como astrônoma. O que te motivou a seguir a área de ciências e a estudar as galáxias? Por que, para você, a ciência é uma área bonita e interessante?

Leda Pinto: Desde criança eu sempre gostei de observar o céu. Quando fiquei mais velha, comecei a ler livros relacionados à Astronomia e na hora de me inscrever para o vestibular, acabei escolhendo essa faculdade. De fato, nunca parei para pensar nas matérias que teria que estudar ou na dificuldade do curso, apenas gostava. Mas como também sempre me dei bem em Física e Matemática na escola, deu tudo certo. Quando chegou a hora de buscar uma iniciação científica, conversei com vários pesquisadores no Observatório Nacional (ON) e o projeto que mais me chamou atenção trabalhava com Galáxias HII, um tipo específico de galáxias que formam muitas estrelas. Parecia muito emocionante e foi mesmo! São galáxias superinteressantes e eu fiquei muito feliz com minha escolha. Segui estudando galáxias com altas taxas de formação estelar até o doutorado.

A ciência é a forma mais bonita de enxergarmos o mundo à nossa volta. Permite-nos conhecer nosso passado, entender nosso presente e projetar nosso futuro. Interagir de forma mais inteligente e respeitosa com a natureza e com a humanidade, em sociedade ou individualmente. O método científico contribui para que aprendamos diversas habilidades, que são utilizadas cotidianamente, mesmo que não percebamos. Tudo ao nosso redor é ciência. A Astronomia, em particular, é uma ciência que encanta, com suas imagens espetaculares, que ativam a imaginação, e implicações filosóficas sobre a origem e destino do universo e o propósito de todas as coisas.

Ibict: Que cientistas te inspiram como pessoa?

Leda Pinto: Acho que nunca fui inspirada por um único cientista. Li livros de Stephen Hawking e Carl Sagan – que, para mim, é o maior divulgador de ciência de todos os tempos! Acho muito impressionante como pessoas como Galileu, Newton, Einstein, Hubble, Tesla, Darwin e tantos outros deram contribuições de imenso valor para a ciência e para o seu avanço, mas acho que, acima de tudo, admiro a coragem de propor quebras de paradigma e lutar para mostrar à população, à academia, aos governantes, uma nova visão de mundo. Acho que o que mais me impactou enquanto estudante foi interagir com os cientistas que eram referência para os meus estudos e participar, em tempo real, da construção de novos caminhos e novos entendimentos na área que escolhi. Os grandes cientistas, por melhores que sejam, povoam o imaginário. Os pesquisadores com os quais interagimos têm vida, são gente como a gente, sua atuação é palpável. Dá para ver o esforço e dedicação que as descobertas exigem, mas, ao mesmo tempo, a satisfação pelo trabalho realizado. Isso é muito inspirador para mim.

Ibict: Para você, o que é Divulgação Científica?

Leda Pinto. É mostrar para a sociedade, em especial crianças e adolescentes, as maravilhas da ciência, do processo de descoberta, a importância de se fazer perguntas para entender o universo que nos cerca. É desmistificar a ciência e despertar o encantamento, abrir horizontes e plantar sementes de novos cientistas.

Ibict: Qual é a sua visão sobre o processo de descoberta da ciência pelos cidadãos – o público em geral– e como isso pode mudar a visão de mundo de alguém?

Leda Pinto. Eu acredito que entender o mundo à nossa volta é direito de todos. Ter uma melhor compreensão dos benefícios que a ciência pode trazer no dia-a-dia de cada pessoa, também. É um processo complexo que deve levar em consideração toda a bagagem histórica, cultural e social de cada pessoa, proporcionando um diálogo e uma troca de saberes.

O indivíduo apropriado da ciência, dos métodos e dos resultados científicos torna-se questionador, passa a cobrar que a ciência seja utilizada em prol de sua melhoria de vida e defende que sejam feitas pesquisas que contribuam para geração de renda e inclusão social. Ou seja, o indivíduo exerce sua cidadania. Assim, quando a pessoa entende a ciência, seus horizontes são ampliados por meio do conhecimento, surgem novas oportunidades e ela passa a ocupar seu lugar na sociedade, cidadão de fato.

Para crianças e jovens, esse processo é ainda mais relevante, pois traz também novas opções de carreiras, novas formas de se encaixar e se enxergar no mundo, cria perspectivas e impulsiona a imaginação e a vontade de buscar, querer ser mais.

Portanto, a oferta de conteúdo científico de qualidade, em linguagem acessível, respeitando o histórico e os saberes que cada indivíduo possui, é um dever do governo e das instituições de um país.

Ibict: Quais são as perspectivas do Canal Ciência para 2021?

Leda Pinto. O Canal Ciência está atualmente envolvido em um projeto solicitado pelo MCTI, chamado Clube da Ciência. A proposta é incentivar a formação de clubes de ciência em ambientes escolares e domésticos, promovendo a interação entre famílias, estudantes, professores e a ciência e seus métodos. Serão oferecidos conteúdos diversificados, como experimentos científicos, materiais lúdicos, jogos, simulações, links para projetos de ciência cidadã, em um ambiente propício à interação e trocas de experiências entre os membros.

Uma das vertentes desse projeto é a reformulação do Canal Ciência, que trará uma nova cara para o portal, novos conteúdos, uma interface mais moderna e interativa. Enquanto isso, as atividades do Canal Ciência continuam. Periodicamente são publicados novos textos no Ciência em Síntese, as oficinas do Canal estão com inscrições abertas para a modalidade online e a nossa participação nas redes sociais está se intensificando. Teremos novidades muito em breve, como, por exemplo, lives com cientistas. No longo prazo, o Canal Ciência vai oferecer inúmeras possibilidades de inserção da ciência no cotidiano do cidadão de todas as idades, contribuindo especialmente para o alcance do letramento científico da sociedade.

Ibict: Como você acha que o Ibict pode colaborar mais com a sociedade a partir da informação, da ciência e da tecnologia?

Leda Pinto. No mundo em que vivemos, a informação se tornou parte estruturante da sociedade. A transformação dessa informação em conhecimento aproveitável no dia-a-dia, tanto para o crescimento individual quanto para o desenvolvimento do país, continua sendo um desafio. O Ibict exerce papel fundamental nessa transformação, realizando pesquisas de ponta no setor de Institutos de Ciência e Tecnologia e levando à sociedade, em primeira mão, o resultado de pesquisas e possibilidades de aplicação em diversas áreas do conhecimento humano em linguagem de fácil compreensão.

 

 

Carolina Cunha e Lucas Guedes

Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Publicado em Notícias

A diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Cecília Leite avalia como positivo o ano de 2020, apesar dos inúmeros desafios marcados pela emergência da Covid-19.

Em entrevista ao site do Ibict, Cecília Leite reflete sobre o ano de 2020 e sobre as expectativas para 2021. Em seu último ano de gestão, a diretora também fala sobre o papel da informação no mundo atual e da importância do cuidado com os funcionários, a partir de uma cultura organizacional comprometida com a humanização, além da promoção do humano em sua integralidade.

Mestre (1996) e doutora (2003) em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, Cecília Leite é pesquisadora de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),e está cedida ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Atualmente, Cecilia Leite encontra-se em sua segunda gestão como diretora do Ibict.

Como você avalia o ano de 2020 para o Ibict?

Cecília Leite: Eu diria que 2020 foi um ano de incertezas, muito difícil por causa da pandemia, e que acentuou as vulnerabilidades do Brasil. Ao mesmo tempo, ele trouxe muitos aprendizados. Eu acho que esse é o legado que a pandemia suscitou, para aqueles que foram capazes de aprender as lições que estão sendo dadas. Nós, do Ibict, conseguimos tomar decisões rápidas, manter o nosso trabalho com todas as mudanças, como a implementação do home office e dos eventos virtuais. O Instituto fez muitas lives pela internet, o que deu a oportunidade de falar para um público ainda maior. Além disso, conseguimos concluir todos os projetos que estavam previstos para serem concluídos em 2020, minimizando o problema dos cortes orçamentários através de recursos de outras fontes. Para 2021, temos cerca de oito projetos novos que já estão em curso. O Ibict, como um todo, aprendeu a lição de mudar a forma de trabalhar, de pensar e agir. Assim como outras pessoas e órgãos, o Ibict passou por essa prova. A gente passou bem e conseguiu superar muitas dificuldades. É muito importante saber que não tivemos nenhum impacto na questão de saúde dos colaboradores e não tivemos nenhum colaborador perdido nesta pandemia. O cuidado tem sido redobrado a cada dia. O uso de máscara, distanciamento, álcool em gel, fazendo o máximo de trabalho remoto para não colocar nenhum servidor em risco. Eu diria que foi um balanço positivo, sob o ponto de vista não só de trabalho, mas de crescimento pessoal, em termos de gestão, de relacionamento entre os servidores.

O Ibict é uma das unidades de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Como o Ibict contribuiu para o trabalho do ministério em 2020?

Cecília Leite: Com certeza eu diria que o Ibict está muito mais próximo do nosso ministério, pois o nosso trabalho apoia a construção de diversas políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação tecnológicas. Contribuímos com várias secretarias do Ministério no apoio à questão informacional que foi muito importante neste momento. O ministro Marcos Pontes tem sempre possibilitado e incentivado este desenvolvimento. Por exemplo, a gente teve a possibilidade de contribuir com a RedeVírus, uma rede de especialistas em coronavírus liderada pelo doutor Marcelo Morales, secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do MCTI. Criamos um diretório de fontes de informação científica de livre acesso sobre o coronavírus. E quando a gente trabalhou durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, criamos uma plataforma de divulgação científica e uma série de eventos que foi um sucesso muito grande. Um deles, o Desafio Caça Asteroides, se transformou num programa. Apoiamos ainda as ações do Programa Ciência no Mar, na construção de um portal de informação. Demos apoio a todas as secretarias que nos procuraram, das mais diversas áreas, não só para a questão da pandemia, mas também para outras demandas do poder público.

Como foi a atuação do Ibict com o setor produtivo?

Cecília Leite: A atuação do Ibict com setor produtivo teve grande destaque em 2020 e acredito que está mais claro o papel da instituição na contribuição de uma organização do processo informacional, na organização da informação para fluir melhor os trabalhos. O próprio setor produtivo tem entendido melhor, a importância da informação e da sua ciência na organização do conhecimento e de processos. A gente tem crescido muito com nossa relação com o setor produtivo. Hoje temos projetos sólidos nas áreas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e Informação para a Sustentabilidade. Um destaque do ano passado foi a implementação do Vigiagro, um projeto muito importante com o Ministério da Agricultura, que possibilitou o aceleramento do processo das importações e exportações brasileiras. Trabalhamos ainda para melhorar um sistema que orienta empreendedores na solução de problemas e informações técnicas de produtos e serviços.

O que você espera para 2021?

Cecília Leite: Em 2021, nós ainda estamos enfrentando a pandemia, que ainda está em um momento crítico. Com a vacina, com certeza o cenário vai melhorar. O novo ano vai exigir colaboração. Com a pandemia, ficou muito claro de que ciência não se faz sozinha. No nosso caso, especificamente, ciência se faz com cientistas que estão espalhados pelo mundo e trabalhando em diversas organizações.  É essa colaboração que faz com que a ciência avance. Independente disso, eu acho que um dos grandes ganhos é que a população começou a entender o quanto a ciência é importante na vida de cada um.  Nós não podemos resolver problemas sem que haja organização e colaboração com nossos parceiros tanto nacionais quanto internacionais. Então, eu acho que esse processo foi um grande aprendizado para todos. Estamos todos no mesmo barco, somos todos seres humanos, no mesmo planeta, sofrendo das mesmas condições climáticas, emocionais e físicas. O que acontece aqui acontece mundialmente. Isso dá sentido a uma transformação global. Então, é essa possibilidade de entender que todos precisam de todos, que todos somos iguais, eu acho que isso também vai trazer um grande avanço não só para o desenvolvimento da ciência, tecnologia, mas também para o desenvolvimento humano em 2021.

A informação é o coração do Ibict. O que você identifica como tendência em relação à informação?

Cecília Leite: Eu acho que este ano foi muito importante para o entendimento da importância da informação. Desde as fake news, que deixou muito claro que a desinformação e a manipulação de dados pode ser algo extremamente danoso e criminoso, até a questão da informação precisa e oportuna para a solução de problemas, melhoria de processos e avanço de conhecimento. Acho que em todos os níveis e áreas da sociedade, a informação atuou de alguma maneira para deixar claro a sua importância e a responsabilidade ética que se deve ter no uso dela. A sociedade vai trabalhar com cada vez mais informação e sistemas conectados. Precisamos saber tratar e organizar grandes volumes de dados e lidar com novos desafios.  

Você costuma dizer que as empresas e organizações podem ser “curadoras”. Qual é a sua visão sobre esse conceito?

Cecília Leite: Existe um autor indiano-americano, Raj Sisodia, que desenvolve a ideia de que organizações podem se tornar forças de cura. Essas pessoas conseguiram mostrar que as empresas que lidam com humanidade, que têm o seu capital humano como a essência de seu trabalho, conseguem não só melhorar as pessoas do grupo, mas aumentar a rentabilidade financeira. Eu diria que temos que pensar em instituições que cuidam. Porque na pandemia, a instituição que não cuidou dos seus colaboradores, com certeza teve problemas muito mais sérios do que aquelas que tiveram o cuidado de manter a integridade física e emocional dos seus colaboradores acima de qualquer outra coisa. Então eu acho que o Ibict trabalha um pouco com esses conceitos novos, porque a gente precisa cuidar da gente para poder cuidar do público. O servidor público é aquele que decidiu dedicar sua vida a cuidar do outro, daquilo que é público, do que não é seu, é de todos. Aqui no Ibict a gente tem exercitado isso com muita consciência. Eu acho que é isso que fez com que o ano de 2020 tenha sido positivo, porque estamos mais próximos, valorizamos o cuidado, mesmo à distância. Eu acho que nós estamos neste contexto onde existe um grande número de cientistas estudando também as questões humanitárias. Eu acredito em lideranças com energia feminina, todo mundo precisa desenvolver em si a energia feminina, que leva em conta a humanização, cooperação, empatia e diversidade. O que isso quer dizer? Valores tradicionalmente considerados femininos, como compaixão e proteção, que podem ser aplicados tanto a mulheres quanto aos homens, independente do gênero. A energia masculina está associada à força, estrutura, coragem. Precisamos disso. Mas esse equilíbrio é que faz as coisas acontecerem com mais fluidez e leveza. Eu particularmente acredito nessa ideia e tento aplicar essa experiência aqui no Ibict.

O que você sonha para o Ibict, qual é a sua visão sobre o instituto?

Cecília Leite: Este é meu último ano aqui na diretoria do Ibict, estou terminando o meu mandato. O meu sonho para 2021 é consolidar tudo aquilo que a gente vem trabalhando ao longo destes oito anos. Ver que deu certo. Eu estou na minha segunda gestão e vejo que houve grandes mudanças, na forma de trabalhar, agir e lidar com o próprio serviço público. O meu grande sonho é que ao final deste ano, seja consolidada essa linha de gestão que estamos levando, com algumas coisas bastante inovadoras, mas que na prática estão funcionando. Eu não sou nenhuma administradora de formação, sou especialista em informação. Mas eu diria que aprendi muito ao longo destes oito anos e quero consolidar os bons caminhos que foram abertos, deixar claro que o que não funcionou bem não se repita e poder deixar um legado positivo para o próximo diretor.

Você diz que a informação é algo que te move. O que existe de bonito e transformador na informação?

Cecília Leite: Para mim, a informação foi uma das maiores descobertas que fiz na vida. A informação enquanto a sua importância. Desde a nossa formação, se o nosso DNA tiver alguma informação desequilibrada, a vida pode correr perigo. Então a informação vem desde o nascimento, até a informação que vem daquilo que você vai aprendendo ao longo da vida, do exemplo que você vê em casa, da informação que você escuta na rua, que você acessa na escola, que vem da sua intuição e reflexões. Eu acho que esse conjunto de informações constrói a gente. O que move o ser humano? É a sua vontade de crescer, de realizar sonhos e ser feliz. E as informações são fundamentais para a gente organizar o caminho que queremos trilhar para alcançar objetivos. Cada um tem os seus. Tem objetivos que são absolutamente nefastos, outros são absolutamente iluminados. A beleza do mundo e da vida é exatamente esse diferencial, o poder da escolha, e a possibilidade de cada um de decidir pelo o que quer, de usar as informações que tem para o que deseja, de transformá-la em conhecimento, em ação, em última análise, em amor, que traga a felicidade, que é o que todos buscam.  Para mim, a informação é muito importante do ponto de vista profissional. Eu dediquei a minha vida a ela, a trabalhar a informação que possa ser útil para todos. Eu acredito na informação que gera conhecimento e que faz a ciência avançar, que traz melhores soluções para os grandes problemas, sejam eles de ordem científica, tecnológica, pessoal, emocional, psicológica e espiritual. É a informação que gera todas essas possibilidades. É o ponto de partida. Eu acho que a informação move cada um de nós, do Ibict, e a mim, move com toda a força. Eu diria que esse é o movimento que me impulsiona na vida.

 

Carolina Cunha

Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Publicado em Notícias

Em busca da ampliação do entendimento sobre os processos de produção, circulação e uso da informação científica e também a respeito dos desafios às estruturas e modelos tradicionais e hegemônicos da comunicação científica, o pesquisador André Appel, hoje doutor em Ciência da Informação, decidiu realizar uma ampla pesquisa sobre o assunto.

A pesquisa de André Appel gerou a tese “Dimensões Tecnopolíticas e Econômicas da Comunicação Científica em Transformação”, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict). O trabalho foi orientado pela professora Sarita Albagli.

Em entrevista para o site do Ibict, André Appel, que é pesquisador da Coordenação de Tecnologias Aplicadas a Novos Produtos (COTEA) do Ibict, conta sobre a importância das transformações no processo de publicação de periódicos científicos, as quais têm ocorrido intensamente especialmente desde a pandemia de COVID-19, fato que obrigou a ciência se reinventar.

André Appel também explica sobre a importância da Ciência Aberta e do Acesso Aberto para o crescimento da ciência brasileira e mundial, em especial o potencial de renovação nos processos de produção e publicação de resultados de pesquisa, com ampliação da participação e do acesso.

Confira!

Ibict: O que motivou a escolha do tema da sua tese? Por que estudar a comunicação científica?

André Appel: Meu interesse pelos temas da comunicação científica e do Acesso Aberto vem desde a graduação, época em que participei como voluntário em um programa de iniciação científica, trabalhando em pesquisas sobre esses temas. Ao longo do mestrado e doutorado no PPGCI, por conta da rica interação com os docentes e colegas do programa, com minhas orientadoras e com diversos pesquisadores e pesquisadoras, em eventos da área e outros canais da Internet, tive a oportunidade de absorver variadas perspectivas e abordagens sobre esses temas. Depois disso, além de uma abordagem mais técnica, de análise dos suportes e fluxos de informação, procurei então investir em uma perspectiva mais crítica e mais analítica de como esses fenômenos, comunicação científica e acesso aberto, por meio de condicionantes sociais, políticos ou econômicos, chegaram às suas configurações atuais.

Ibict: Tendo como base os resultados da sua tese, qual a importância da Ciência Aberta e do Acesso Aberto?

André Appel: O Acesso Aberto, desde muito cedo, advoga pela garantia de acesso livre e gratuito ao conhecimento científico, isto é, um acesso livre de barreiras de natureza técnica, social ou econômica. Já a Ciência Aberta configurou-se como um movimento que advoga não somente pela garantia do acesso irrestrito ao conhecimento, mas também pela garantia de que todos e todas tenham chance de contribuir com o “fazer ciência”. Essas são características de uma ciência mais justa e menos elitizada e que, por consequência disso, torna-se mais eficiente na sua tarefa de beneficiar toda a sociedade, todas as culturas, e não somente determinadas nações ou determinados grupos.

Ibict: Sua tese foi produzida em 2019. Com o novo cenário vivenciado a partir da pandemia, o que mudou a partir do seu estudo?

André Appel: Creio que uma das principais mudanças diz respeito ao significativo aumento da interação e da atividade de pesquisa por meio da Internet, com a consequente ampliação da demanda por ferramentas e plataformas para mediar esse tipo de interação. Aulas, reuniões, treinamentos, disseminação de conteúdo, grande parte das atividades relacionadas à produção e circulação de conhecimentos que antes se dava pela via presencial, passou a ser realizada de forma remota. Nesse aspecto, é muito importante que possamos usufruir de infraestruturas comuns e compartilhadas de pesquisa, e isso inclui não somente ferramentas eficazes de telecomunicação audiovisual, mas também ferramentas para facilitar o acesso e o compartilhamento de dados e demais resultados de pesquisa.

Tanto no Brasil quanto no exterior vem ocorrendo um movimento de investimentos, públicos e privados, nessas infraestruturas de dados abertos e de comunicação em pesquisa, as quais agora se mostram cruciais para o intercâmbio, o monitoramento e a análise de dados sobre a pandemia, além de viabilizarem a continuidade do trabalho de pesquisa pela via remota.

Há diversas plataformas de uso comercial ou restrito permitindo o uso gratuito, especialmente para pesquisas relacionadas à Covid-19. É preciso lembrar, por outro lado, e isso eu destaco na minha pesquisa, que esse uso não é a custo zero. Enquanto interagimos e inserimos dados nessas plataformas, nós trabalhamos indiretamente para a melhoria e para o aperfeiçoamento delas, alimentando algoritmos e modelos computacionais, gerando novos conjuntos de dados para análise de desempenho e produtividade em pesquisa e novas ferramentas que não necessariamente serão fornecidas de graça no futuro. O advento da pandemia, por exemplo, resulta em condições extremas de uso dessas plataformas e em volumes de dados para análise e avaliação de desempenho outrora inalcançáveis.

Ibict: É correto dizer que a comunicação científica nunca mais será a mesma depois da pandemia?

André Appel: Na visão de diversos estudiosos da área, a comunicação científica compreende basicamente dois grandes conjuntos de canais. Os formais, onde estão os livros e periódicos, que são avaliados e validados por pares e também são de ampla circulação; e os canais informais, que envolvem as comunicações tradicionalmente mais efêmeras, resumidas, menos formais, e que circulam entre um público mais restrito. Lembrando que essas definições já sofreram muitas transformações com a transição para o ambiente digital, mas muitos aspectos ainda se mantêm. E, a meu ver, os canais informais são os mais impactados pela pandemia, até o momento.

Penso em três exemplos para explicitar isso. Primeiro, o dos colégios invisíveis, essa que é uma expressão usada para representar pequenos grupos de cientistas, que se comunicam constantemente e sob uma intensa relação de confiança. São aqueles colegas com quem a gente primeiro compartilha ideias, textos, resultados de pesquisa etc. em busca de revisões, conselhos, novas ideias e diferentes perspectivas. Esses grupos que há muito tempo fazem uso das telecomunicações, farão agora um uso ainda mais intensivo e enfrentarão menos barreiras para manter o contato, mesmo com a redução da interação presencial.

Como segundo exemplo, cito o caso das comunicações realizadas em congressos e eventos que, creio eu, levarão muito tempo ainda para voltar a ocorrer de forma presencial. E mesmo com o retorno, creio que se configurem de forma totalmente diferente do que estamos acostumados, muito em função das inúmeras experimentações que têm ocorrido nesse período da pandemia. Tenho visto congressos em que trabalhos são apresentados na forma de posts no Twitter, palestras e seminários com transmissão ao vivo para públicos amplos, seminários no formato de webconferências, nos quais o público tem uma presença um pouco mais destacada em relação às transmissões, entre outros exemplos.

Esse contexto traz alguns prejuízos, como a perda da informalidade inerente à comunicação face-a-face, fazendo com que muitos se sintam constringidos ou pouco à vontade para se manifestar, além da perda das conversas e trocas de ideias durante os intervalos do café e outros fatores. Por outro lado, traz também benefícios, como a disponibilidade para um público maior e mais disperso geograficamente, que outrora não teria condições de participar por dificuldade de descolamento, por exemplo, além do potencial de multitarefa, ou seja, possibilidade de acompanhar os eventos enquanto trabalhamos em outras atividades. Como terceiro exemplo, trago a questão dos preprints, que também têm seu protagonismo ampliado durante a pandemia.

Ibict: Poderia contar um pouco sobre o que são preprints?

André Appel: Preprints são formas de comunicação prévia e mais ágil de resultados de pesquisa enquanto estes ainda passam pelo processo de validação e revisão por pares ou enquanto aguardam publicação formal e chancela final da comunidade científica, com a publicação em um periódico científico. Esse processo pode levar de semanas a meses, tempo este que é absolutamente crítico em meio a uma pandemia. No Brasil, ganham destaque duas novas iniciativas para viabilizar a disponibilização de preprints, uma delas encabeçada pela parceria entre Ibict e Abec e outra encabeçada pela rede SciELO, ambas com foco, no momento, na difusão de pesquisas sobre Coronavírus e Covid-19.

No plano global, um estudo recente, um preprint, justamente, mostra que mais de 40% de toda a literatura sobre Covid-19 gerada até o momento foi divulgada como preprint. Com o crescimento desse protagonismo, pode-se vislumbrar um cenário futuro em que todos os novos resultados de pesquisa sejam primeiramente depositados em repositórios de preprints, os quais serão monitorados de perto por editores e editoras que, por sua vez, convidarão os autores a publicarem aqueles resultados também em seus periódicos, conforme interesse temático, interesse em receber citações etc., fazendo com que periódicos se tornem espécies de coleções curadas de preprints/artigos.

E para todos esses três exemplos que acabo de citar, ressalto novamente a importância das plataformas e infraestruturas anteriormente mencionadas, pois elas subsidiam muitas das atividades nesses canais informais.

Ibict: Quais limites você encontrou como pesquisador para a realização do seu estudo? Recomendaria outros estudos nesse sentido?

André Appel: Acho que o principal desafio enfrentado diz respeito à dinamicidade da relação comunicação científica e Acesso Aberto. A todo momento surgem novas proposições, práticas, diretrizes, novos modelos de negócio no cenário comercial etc., tornando difícil documentar e analisar todos esses acontecimentos.

Outra dificuldade está na barreira linguística e geográfica. Linguística quando muitos dos estudos sobre o tema são publicados em outros idiomas ou quando a gente precisa publicar nossos próprios estudos em outro idioma para atingir um público mais amplo ou em atendimento a demandas de avaliação e de produtividade, e isso gera uma camada extra de atenção e de trabalho, por assim dizer, e geográfica quando reuniões e discussões importantes sobre o tema ocorrem em regiões distantes e a gente não tem a chance de acompanhar presencialmente. Minha recomendação é para que se intensifiquem os estudos sobre as plataformas e infraestruturas de pesquisa, especialmente de acesso, código e padrões abertos, para que não fiquemos reféns de soluções pagas no futuro.

A tese em versão integral de André Appel pode ser encontrada no Repositório Institucional do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - RIDI/Ibict, clicando aqui.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

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