A diretora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Cecília Leite avalia como positivo o ano de 2020, apesar dos inúmeros desafios marcados pela emergência da Covid-19.
Em entrevista ao site do Ibict, Cecília Leite reflete sobre o ano de 2020 e sobre as expectativas para 2021. Em seu último ano de gestão, a diretora também fala sobre o papel da informação no mundo atual e da importância do cuidado com os funcionários, a partir de uma cultura organizacional comprometida com a humanização, além da promoção do humano em sua integralidade.
Mestre (1996) e doutora (2003) em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília, Cecília Leite é pesquisadora de carreira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),e está cedida ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Atualmente, Cecilia Leite encontra-se em sua segunda gestão como diretora do Ibict.
Como você avalia o ano de 2020 para o Ibict?
Cecília Leite: Eu diria que 2020 foi um ano de incertezas, muito difícil por causa da pandemia, e que acentuou as vulnerabilidades do Brasil. Ao mesmo tempo, ele trouxe muitos aprendizados. Eu acho que esse é o legado que a pandemia suscitou, para aqueles que foram capazes de aprender as lições que estão sendo dadas. Nós, do Ibict, conseguimos tomar decisões rápidas, manter o nosso trabalho com todas as mudanças, como a implementação do home office e dos eventos virtuais. O Instituto fez muitas lives pela internet, o que deu a oportunidade de falar para um público ainda maior. Além disso, conseguimos concluir todos os projetos que estavam previstos para serem concluídos em 2020, minimizando o problema dos cortes orçamentários através de recursos de outras fontes. Para 2021, temos cerca de oito projetos novos que já estão em curso. O Ibict, como um todo, aprendeu a lição de mudar a forma de trabalhar, de pensar e agir. Assim como outras pessoas e órgãos, o Ibict passou por essa prova. A gente passou bem e conseguiu superar muitas dificuldades. É muito importante saber que não tivemos nenhum impacto na questão de saúde dos colaboradores e não tivemos nenhum colaborador perdido nesta pandemia. O cuidado tem sido redobrado a cada dia. O uso de máscara, distanciamento, álcool em gel, fazendo o máximo de trabalho remoto para não colocar nenhum servidor em risco. Eu diria que foi um balanço positivo, sob o ponto de vista não só de trabalho, mas de crescimento pessoal, em termos de gestão, de relacionamento entre os servidores.
O Ibict é uma das unidades de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Como o Ibict contribuiu para o trabalho do ministério em 2020?
Cecília Leite: Com certeza eu diria que o Ibict está muito mais próximo do nosso ministério, pois o nosso trabalho apoia a construção de diversas políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação tecnológicas. Contribuímos com várias secretarias do Ministério no apoio à questão informacional que foi muito importante neste momento. O ministro Marcos Pontes tem sempre possibilitado e incentivado este desenvolvimento. Por exemplo, a gente teve a possibilidade de contribuir com a RedeVírus, uma rede de especialistas em coronavírus liderada pelo doutor Marcelo Morales, secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do MCTI. Criamos um diretório de fontes de informação científica de livre acesso sobre o coronavírus. E quando a gente trabalhou durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, criamos uma plataforma de divulgação científica e uma série de eventos que foi um sucesso muito grande. Um deles, o Desafio Caça Asteroides, se transformou num programa. Apoiamos ainda as ações do Programa Ciência no Mar, na construção de um portal de informação. Demos apoio a todas as secretarias que nos procuraram, das mais diversas áreas, não só para a questão da pandemia, mas também para outras demandas do poder público.
Como foi a atuação do Ibict com o setor produtivo?
Cecília Leite: A atuação do Ibict com setor produtivo teve grande destaque em 2020 e acredito que está mais claro o papel da instituição na contribuição de uma organização do processo informacional, na organização da informação para fluir melhor os trabalhos. O próprio setor produtivo tem entendido melhor, a importância da informação e da sua ciência na organização do conhecimento e de processos. A gente tem crescido muito com nossa relação com o setor produtivo. Hoje temos projetos sólidos nas áreas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e Informação para a Sustentabilidade. Um destaque do ano passado foi a implementação do Vigiagro, um projeto muito importante com o Ministério da Agricultura, que possibilitou o aceleramento do processo das importações e exportações brasileiras. Trabalhamos ainda para melhorar um sistema que orienta empreendedores na solução de problemas e informações técnicas de produtos e serviços.
O que você espera para 2021?
Cecília Leite: Em 2021, nós ainda estamos enfrentando a pandemia, que ainda está em um momento crítico. Com a vacina, com certeza o cenário vai melhorar. O novo ano vai exigir colaboração. Com a pandemia, ficou muito claro de que ciência não se faz sozinha. No nosso caso, especificamente, ciência se faz com cientistas que estão espalhados pelo mundo e trabalhando em diversas organizações. É essa colaboração que faz com que a ciência avance. Independente disso, eu acho que um dos grandes ganhos é que a população começou a entender o quanto a ciência é importante na vida de cada um. Nós não podemos resolver problemas sem que haja organização e colaboração com nossos parceiros tanto nacionais quanto internacionais. Então, eu acho que esse processo foi um grande aprendizado para todos. Estamos todos no mesmo barco, somos todos seres humanos, no mesmo planeta, sofrendo das mesmas condições climáticas, emocionais e físicas. O que acontece aqui acontece mundialmente. Isso dá sentido a uma transformação global. Então, é essa possibilidade de entender que todos precisam de todos, que todos somos iguais, eu acho que isso também vai trazer um grande avanço não só para o desenvolvimento da ciência, tecnologia, mas também para o desenvolvimento humano em 2021.
A informação é o coração do Ibict. O que você identifica como tendência em relação à informação?
Cecília Leite: Eu acho que este ano foi muito importante para o entendimento da importância da informação. Desde as fake news, que deixou muito claro que a desinformação e a manipulação de dados pode ser algo extremamente danoso e criminoso, até a questão da informação precisa e oportuna para a solução de problemas, melhoria de processos e avanço de conhecimento. Acho que em todos os níveis e áreas da sociedade, a informação atuou de alguma maneira para deixar claro a sua importância e a responsabilidade ética que se deve ter no uso dela. A sociedade vai trabalhar com cada vez mais informação e sistemas conectados. Precisamos saber tratar e organizar grandes volumes de dados e lidar com novos desafios.
Você costuma dizer que as empresas e organizações podem ser “curadoras”. Qual é a sua visão sobre esse conceito?
Cecília Leite: Existe um autor indiano-americano, Raj Sisodia, que desenvolve a ideia de que organizações podem se tornar forças de cura. Essas pessoas conseguiram mostrar que as empresas que lidam com humanidade, que têm o seu capital humano como a essência de seu trabalho, conseguem não só melhorar as pessoas do grupo, mas aumentar a rentabilidade financeira. Eu diria que temos que pensar em instituições que cuidam. Porque na pandemia, a instituição que não cuidou dos seus colaboradores, com certeza teve problemas muito mais sérios do que aquelas que tiveram o cuidado de manter a integridade física e emocional dos seus colaboradores acima de qualquer outra coisa. Então eu acho que o Ibict trabalha um pouco com esses conceitos novos, porque a gente precisa cuidar da gente para poder cuidar do público. O servidor público é aquele que decidiu dedicar sua vida a cuidar do outro, daquilo que é público, do que não é seu, é de todos. Aqui no Ibict a gente tem exercitado isso com muita consciência. Eu acho que é isso que fez com que o ano de 2020 tenha sido positivo, porque estamos mais próximos, valorizamos o cuidado, mesmo à distância. Eu acho que nós estamos neste contexto onde existe um grande número de cientistas estudando também as questões humanitárias. Eu acredito em lideranças com energia feminina, todo mundo precisa desenvolver em si a energia feminina, que leva em conta a humanização, cooperação, empatia e diversidade. O que isso quer dizer? Valores tradicionalmente considerados femininos, como compaixão e proteção, que podem ser aplicados tanto a mulheres quanto aos homens, independente do gênero. A energia masculina está associada à força, estrutura, coragem. Precisamos disso. Mas esse equilíbrio é que faz as coisas acontecerem com mais fluidez e leveza. Eu particularmente acredito nessa ideia e tento aplicar essa experiência aqui no Ibict.
O que você sonha para o Ibict, qual é a sua visão sobre o instituto?
Cecília Leite: Este é meu último ano aqui na diretoria do Ibict, estou terminando o meu mandato. O meu sonho para 2021 é consolidar tudo aquilo que a gente vem trabalhando ao longo destes oito anos. Ver que deu certo. Eu estou na minha segunda gestão e vejo que houve grandes mudanças, na forma de trabalhar, agir e lidar com o próprio serviço público. O meu grande sonho é que ao final deste ano, seja consolidada essa linha de gestão que estamos levando, com algumas coisas bastante inovadoras, mas que na prática estão funcionando. Eu não sou nenhuma administradora de formação, sou especialista em informação. Mas eu diria que aprendi muito ao longo destes oito anos e quero consolidar os bons caminhos que foram abertos, deixar claro que o que não funcionou bem não se repita e poder deixar um legado positivo para o próximo diretor.
Você diz que a informação é algo que te move. O que existe de bonito e transformador na informação?
Cecília Leite: Para mim, a informação foi uma das maiores descobertas que fiz na vida. A informação enquanto a sua importância. Desde a nossa formação, se o nosso DNA tiver alguma informação desequilibrada, a vida pode correr perigo. Então a informação vem desde o nascimento, até a informação que vem daquilo que você vai aprendendo ao longo da vida, do exemplo que você vê em casa, da informação que você escuta na rua, que você acessa na escola, que vem da sua intuição e reflexões. Eu acho que esse conjunto de informações constrói a gente. O que move o ser humano? É a sua vontade de crescer, de realizar sonhos e ser feliz. E as informações são fundamentais para a gente organizar o caminho que queremos trilhar para alcançar objetivos. Cada um tem os seus. Tem objetivos que são absolutamente nefastos, outros são absolutamente iluminados. A beleza do mundo e da vida é exatamente esse diferencial, o poder da escolha, e a possibilidade de cada um de decidir pelo o que quer, de usar as informações que tem para o que deseja, de transformá-la em conhecimento, em ação, em última análise, em amor, que traga a felicidade, que é o que todos buscam. Para mim, a informação é muito importante do ponto de vista profissional. Eu dediquei a minha vida a ela, a trabalhar a informação que possa ser útil para todos. Eu acredito na informação que gera conhecimento e que faz a ciência avançar, que traz melhores soluções para os grandes problemas, sejam eles de ordem científica, tecnológica, pessoal, emocional, psicológica e espiritual. É a informação que gera todas essas possibilidades. É o ponto de partida. Eu acho que a informação move cada um de nós, do Ibict, e a mim, move com toda a força. Eu diria que esse é o movimento que me impulsiona na vida.
Carolina Cunha
Núcleo de Comunicação Social do Ibict
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