Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - Entrevista com Rosali Fernandez de Souza: “Vale a pena ser um cientista da Informação” Ir direto para menu de acessibilidade.
Página inicial > Sala de Imprensa > Notícias > Entrevista com Rosali Fernandez de Souza: “Vale a pena ser um cientista da Informação”
Início do conteúdo da página
Terça, 29 Setembro 2020 11:11

Entrevista com Rosali Fernandez de Souza: “Vale a pena ser um cientista da Informação”

Arte: Victor Silva Arte: Victor Silva

“Vale a pena ser um cientista da Informação”. A frase – tão vigente em tempos da sociedade do conhecimento – é de Rosali Fernandez de Souza, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, realizado a partir da parceria entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Rosali Fernandez de Souza possui graduação em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade Santa Úrsula (1968), especialização em Documentação Científica (1969) e mestrado em Ciência da Informação (1973) pelo PPGCI/Ibict/UFRJ, além de doutorado pela Polytechnic of North London, conferido pelo Council for National Academic Awards (1984).

Em entrevista exclusiva ao site do Ibict, a professora conta sobre a história dela com a Ciência da Informação e com o PPGCI/Ibict/UFRJ, detalha a paixão pela Biblioteconomia e revela os autores que mais inspiraram suas pesquisas.

Confira!

Ibict: Qual a sua história acadêmica? A Ciência da Informação era uma paixão desde criança/adolescente?

Rosali Fernandez de Souza: A minha história como profissional tem os seus primórdios com a graduação em Biblioteconomia e Documentação na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, quando comecei a estagiar em uma biblioteca pública regional de bairro. Me encantei em atuar como quase profissional no trabalho de catalogação e classificação de livros e no atendimento ao público.

Especializei minha formação com o Curso de Documentação Científica (CDC) do Ibict, que abriu bastante meus horizontes para serviços e sistemas de informação para além da biblioteca, quando passei a me interessar ainda mais pelas atividades de classificação e recuperação da informação. Em seguida, cursei o Mestrado em Ciência da Informação do PPGCI/Ibict/UFRJ e, posteriormente, ingressei no doutorado na Polytechnic of North London. 

Foi durante o CDC que comecei a atuar como bibliotecária no Centro Latino Americano de Física (CLAF), uma organização intergovernamental de cooperação regional para a Física na América Latina. A complexa temática da biblioteca do CLAF voltada para política científica e a diversificada natureza dos documentos que compunham o acervo me forçaram a refletir sobre a organização e a representação do conhecimento sobre ciência, uma vertente nova para mim. Essa situação me motivou a aprofundar estudos da informação, principalmente em classificação, tema que sempre permeou direta ou indiretamente as minhas indagações teóricas e práticas, tornando-se tema recorrente em meus projetos de pesquisa.

Ibict: Qual a relação da senhora com o PPGCI/Ibict/UFRJ tanto como aluna quanto como professora?

Rosali Fernandez de Souza: Como expliquei na pergunta anterior, minha entrada no PPGCI se deu primeiramente como aluna e, posteriormente, como professora e pesquisadora.  Além de aluna do Curso de Documentação Científica, cursei o Mestrado em Ciência da Informação do IBICT no período 1971-1973, a segunda turma do PPGCI. A seleção de candidatos para primeira turma foi restrita a professores que atuavam em cursos de graduação em biblioteconomia, que não era o meu caso.  

A minha turma teve o privilégio de vivenciar acordos do Ibict com o British Council e com a Ford Foundation, que proporcionaram a vinda de renomados professores e pesquisadores da Inglaterra e dos Estados Unidos da América. Minha turma teve o privilégio de ter como professores LaVahn Overmeyer, em Catalogação Avançada, Jessica Perry, em Técnicas de Indexação e Resumos, Derek Langridge, em Sistemas de Classificação, John Joseph Eyre, em Organização de Serviços de Informação, e Tefko Saracevic, em Processamento de Dados na Documentação. Essa grade curricular central da Ciência da Informação foi complementada com as disciplinas Teoria dos Conjuntos e Programação, ministradas por professores da área de computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no campus da Ilha do Fundão.

Eu também me sentia privilegiada de estar nos meus ambientes familiar e cultural, tendo aulas com todos esses professores. As dificuldades iniciais em acompanhar as aulas e em redigir os term papers em língua inglesa foram aos poucos se dissipando com a compreensão dos professores estrangeiros e pelo espírito de colaboração que reinava entre os colegas da turma. Devido às restrições em tempo da permanência de alguns professores estrangeiros, o horário de aulas era integral e, por vezes, também aos sábados.

A cada disciplina cursada, a Ciência da Informação se delineava como uma área de conhecimento fascinante e promissora para uma jovem, recém-formada em Biblioteconomia e Documentação, no início da atuação profissional. A minha dissertação de mestrado com o título “Análises bibliométricas da produção científica dos grupos de pesquisa sobre Física do Estado Sólido na América Latina”, teve como membros da banca examinadora o professor John Joseph Eyre da Polytechnic of North London (PNL), o físico Dr. Alfredo Marques de Oliveira, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), e orientador o professor Tefko Saracevic, da Case Western Reserve University. 

Ao terminar o mestrado, fui agraciada com bolsa de estudos do British Council para estágio pós-mestrado na Inglaterra, tendo como tutor acadêmico o professor Derek Langridge. Das discussões sobre classificação com Mr. Langridge, resultou o meu interesse em traduzir o livro de sua autoria “Approach to classification for students of librarianship”, no qual a nossa turma de mestrado foi mencionada na dedicatória.

As sólidas bases de conhecimento teórico e prático adquiridos no mestrado do Ibict foram a motivação para prosseguir nos estudos de doutoramento na Inglaterra, na Polytechnic of North London, com bolsa de estudos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), quando ainda não havia curso de doutorado em Ciência da Informação no Brasil. Ao terminar o doutorado, ingressei como professora no PPGCI ministrando disciplinas voltadas para a organização do conhecimento e representação da informação.   Exerci cargo de coordenadora e orientei trabalhos de pesquisa de mestrado e doutorado de alunos, com os quais aprendi muito e me reciclam no ensino e na pesquisa a cada ano.  

Ibict: Quais os principais autores que inspiraram as suas pesquisas?

Rosali Fernandez de Souza: Minhas primeiras referências em classificação no Brasil foram Maria Antonieta Requião Piedade e Alice Príncipe Barbosa. De fora do país destaco Derek Langridge, discípulo de Ranganathan, e o próprio Ranganathan, que me motivaram a desbravar a teoria da classificação, que, juntamente com Jack Mills, A. J. Foskett e B. C. Vickery, me fizeram e ainda me fazem refletir sobre a classificação como atividade fundamental de pensamento e sobre aplicações no âmbito das Ciências, das Ciências Sociais e das Humanidades.

Entre os teóricos de organização do conhecimento, além dos que mencionei, é impossível não nomear I. Dahlberg e B. Hjorland como autores impactantes para as minhas reflexões de pesquisa. Destaco também Edgar Morin, filósofo da educação, que, com o seu conceito de ‘ensino educativo’ e a exploração do pensamento complexo, tem permeado minhas temáticas de pesquisa. Aspectos filosóficos e epistemológicos da organização do conhecimento, assim como a História da Ciência e a Gestão e Avaliação em Ciência, têm contextualizado as temáticas dos meus projetos de pesquisa ao longo dos anos.

Ibict: Qual a importância do PPGCI/Ibict/UFRJ para a Ciência da Informação e para a ciência brasileira?

Rosali Fernandez de Souza: O PPGCI/Ibict/UFRJ completa 50 anos em 2020. Foi pioneiro como curso de mestrado em Ciência da Informação do Brasil, da América Latina e do Caribe. Nos primeiros anos, contou com a participação de renomados professores e pesquisadores que atuavam em instituições de ensino na área da Inglaterra e dos Estados Unidos, o que trouxe o caráter de vanguarda na formação de mestres na área no pais. Conta hoje com um corpo docente permanente e colaboradores de reconhecida competência no ensino e na pesquisa de pós-graduação no país e no exterior. 

O corpo discente, ao longo dos anos, tem se caracterizado por graduados de diferentes áreas das Ciências Exatas e Tecnológicas, das Ciências da Saúde, das Ciências Humanas e Sociais e das Artes, o que torna particularmente profícua a interação entre o alunato e o corpo docente nas discussões em sala de aula, seminários e outras atividades acadêmicas. O reconhecimento pelos pares da produção científica dos docentes e alunos, na premiação em eventos e nos aceites para publicação em revistas científicas da área no país e no exterior, são parâmetros que indicam a importância do PPGCI para a Ciência da Informação. Por outro lado, a atuação de mestres e doutores egressos de uma área em que a informação e o conhecimento são insumo básico em instituições de ensino e pesquisa e em empresas do país constitui potencial importante de apoio ao desenvolvimento da ciência brasileira.

Ibict: Quais os futuros possíveis para o PPGCI/Ibict/UFRJ e para a Ciência da Informação?

Rosali Fernandez de Souza: Na minha visão, o PPGCI tem futuro promissor, assim como a Ciência da Informação. É cada vez mais evidente e reconhecido o papel relevante que a informação desempenha em todas as áreas do universo do conhecimento, principalmente nas Ciências Sociais Aplicadas. Nesse sentido, o futuro do PPGCI e da Ciência da Informação são garantidos.

É importante mencionar o número elevado de interessados que sempre ocorreu ao longo dos 50 anos de história do PPGCI. Por exemplo, em 2020, ano da pandemia de COVID-19, para a seleção do PPGCI foram homologadas para o curso de mestrado 95 inscrições, que concorrem a 27 vagas. Para o curso de doutorado, foram homologadas 70 inscrições, que concorrem a 18 vagas.   

Enquanto houver demanda, há futuro para o PPGCI e para a Ciência da Informação. 

Ibict: Se a senhora pudesse dar um conselho para os futuros estudantes da Ciência da Informação, qual seria?

Rosali Fernandez de Souza: Invistam na Ciência da Informação. Vale a pena ser um Cientista da Informação!


--

Esta entrevista integra uma série do mês de setembro em homenagem aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, desenvolvido por meio de convênio entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A série destacará o trabalho das mulheres na vanguarda do PPGCI/Ibict/UFRJ.


Patrícia Osandón
Núcleo de Comunicação Social do Ibict

Última modificação em Terça, 29 Setembro 2020 11:45
Fim do conteúdo da página