A energia solar fotovoltaica é obtida quando a irradiação solar é transformada diretamente em energia elétrica, sem passar pela fase de energia térmica, como acontece no sistema heliotérmico.
No intuito de analisar os impactos ambientais causados neste processo, a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) Adriana Oliveira, desenvolveu a dissertação de mestrado Avaliação de Impactos Ambientais do Módulo Fotovoltaico: Produção e Uso como Fonte de Energia Elétrica, defendida em 2017 na Universidade Federal de Brasília (UnB).
Adriana é engenheira de energia e mestre em Ciências Mecânicas pela UnB. No Ibict, atua como bolsista no projeto Amazônia Legal Sem Resíduo e faz parte do grupo de Informação para Sustentabilidade na Coordenação de Tecnologias Aplicadas a Novos Produtos (COTEA).
A metodologia empregada na pesquisa foi a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que proporcionou uma análise dos impactos da geração de eletricidade a partir do módulo fotovoltaico desde sua produção até sua aplicação como fonte de energia elétrica em uma residência.
Na entrevista abaixo, a pesquisadora apresenta mais detalhes sobre seu objeto de pesquisa e sua relação com ACV.
Por que você escolheu este tema para sua dissertação?
O curso de Engenharia de Energia da UnB é bastante amplo. Ele permite que você possa trabalhar com todas as fontes de energia existentes. Desta forma, durante a graduação, foquei em me especializar na área de energias renováveis. Com isso, ao finalizar a graduação, tive a oportunidade de trabalhar em uma empresa que comercializava produtos fotovoltaicos, o que me proporcionou uma especialização nessa área. Ao iniciar o mestrado, quis aproveitar o tema em que estava trabalhando e aproveitá-lo para fazer um estudo nessa área.
A energia fotovoltaica é considerada uma energia limpa e renovável, com grandes expectativas de crescimento e inserção de forma mais efetiva na matriz energética brasileira. No entanto, devido à minha bagagem na graduação, eu desejava saber quão limpa e renovável é a energia fotovoltaica. Assim, procurei Sandra Luz, uma professora especialista em Avaliação do Ciclo de Vida de produtos que, por sorte, já havia me dado aula na graduação e tínhamos uma sinergia. Então, entramos no acordo de produzirmos uma dissertação que avaliasse os impactos ambientais do módulo fotovoltaico e, a partir desta análise, comparasse com a matriz energética brasileira.
Você já tinha trabalhado ou pesquisado ACV antes do mestrado?
Conhecia um pouco sobre o tema, mas não tive a oportunidade de trabalhar com essa temática na graduação. O mestrado foi o primeiro contato que tive com esse tema e foi o que me proporcionou me especializar mais nessa área e poder trabalhar no Ibict.
Qual a importância da ACV nos estudos dos impactos ambientais?
De acordo com a NBR ISSO 14.040, a ACV estuda os aspectos ambientais e os impactos potenciais ao longo da vida de um produto (isto é, do “berço ao túmulo”), desde a aquisição da matéria-prima, passando por produção, uso e disposição. As categorias gerais de impactos ambientais que necessitam ser consideradas incluem o uso de recursos, a saúde humana e as consequências ecológicas.
Assim, meu objetivo era analisar os impactos que o módulo fotovoltaico gerava ao longo da sua produção, pois depois que o sistema começa a gerar energia, de fato, não produz impactos ao meio ambiente. Mas quais impactos ele causava na sua produção? Responder a essa pergunta era o objetivo principal. E, após essa análise, quis comparar com os impactos que as principais fontes de energia que a matriz elétrica brasileira possui para, então, incentivar ou não a inserção mais efetiva da energia fotovoltaica no Brasil.
Como a ACV tem sido importante durante a pandemia?
A ACV é extremamente importante para avaliar os impactos ambientais de determinados produtos ou serviços. Ela permite identificar oportunidades para melhorar a forma de produção dos produtos e serve como base para tomada de decisões, seja em um planejamento estratégico ou em um rearranjo na produção de determinado produto.
Durante a pandemia, diversos serviços e produtos precisaram ser suspensos ou realizados de outra forma. Com o auxílio da ACV, as instituições podem avaliar os impactos que tais decisões podem refletir nesses serviços.
Em que ponto você considera que sua pesquisa mais contribui para ACV brasileira?
Durante o mestrado, tive dificuldades em encontrar estudos sobre ACV no contexto da energia fotovoltaica, principalmente estudos nacionais. Em outros países, a energia fotovoltaica é bastante utilizada na matriz energética, a exemplo da Alemanha, em que 25% da sua matriz energética é a base da energia solar. No entanto, o Brasil está com apenas 0,1% de inserção da energia fotovoltaica em sua matriz. Acredito que isso seja um reflexo de que há pouquíssimos estudos nacionais nessa temática.
Desta forma, vejo que a minha pesquisa contribuiu para que o Brasil pudesse ter mais estudos sobre ACV e energia fotovoltaica e também para questionar o porquê deste tipo de energia não ter uma inserção maior na matriz, já que possui diversos benefícios.
Para conhecer os resultados da pesquisa, acesse o trabalho completo aqui.
Lucas Guedes
Núcleo de Comunicação Social do Ibict
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